
Alunos de curso pré-militar de Canoas cantam música de exaltação à violência
Um vídeo que circula nas redes sociais desde o último sábado (02) mostra alunos do Centro de Treinamento Pré-Militar de Canoas marchando e cantando músicas com letras de exaltação à violência. Incentivados por um instrutor, crianças e adolescentes entoam: "Quando eu morrer, quero ir de FAL (fuzil) e de Beretta (arma de fogo), chegar no inferno e dar um tiro na cabeça no capeta".
As imagens, acompanhadas de uma crítica, foram publicadas no Twitter pelo coronel Marcelo Pimentel, ex-chefe do Estado-Maior da 7ª Região do Exército, em sua conta pessoal. Segundo Pimentel, o vídeo foi gravado no último fim de semana por um colega militar que mora em Canoas.
"São crianças e jovens conduzidos por marmanjos com canções de corrida lá dos anos 1970", observa. "Essas letras são impróprias para serem pronunciadas fora do quartel. Até no quartel já não cabe mais".
O coronel da reserva do Exército afirma que, quando era instrutor do CPOR (Centro de Preparação de Oficiais da Reserva), evitava o uso de qualquer canção com letra similar."É complicado incitarmos crianças e jovens ao fascismo.
"Nos comentários e compartilhamentos da publicação, o treinamento também foi alvo de críticas. Houve quem citasse "apologia à violência" e quem destacasse a presença de crianças na marcha.
A veracidade do vídeo foi reconhecida pelo centro de treinamento, que assumiu utilizar a música durante as atividades preparatórias com o objetivo de "gerar engajamento e motivação a quem canta". Por nota, a empresa informou ainda que, apesar de "tradicional em atividades de TFM (Treinamento Fisíco Militar)", a estratégia está sendo reavaliada por uma profissional de educação.
Desde 2020, o Centro de Treinamento Pré-Militar de Canoas atende crianças e jovens de 7 a 17 anos. Conforme o próprio estabelecimento, que é particular e não está vinculado ao Exército Brasileiro, entre os temas trabalhados, estão primeiros-socorros, combate a incêndio, sobrevivência e defesa pessoal.
MP analisa imagens
O Ministério Público do Rio Grande do Sul (MP/RS) informou que analisa as imagens divulgadas nas redes sociais.
Em 2018, a Justiça já havia ordenado a suspensão de um curso batizado de "Comandos", que era oferecido em Canoas e também em Gravataí. A suspeita do MP/RS é que algum dos envolvidos no antigo curso, que teve as atividades encerradas, participe desse treinamento exibido nas imagens.
A denúncia que chegou à época ao MP/RS era de prática de violência e tortura contra crianças e adolescentes. Foram dois adolescentes de 13 e 16 anos, alunos do curso, que denunciaram as agressões e humilhações à Polícia Civil, resultando na investigação.
Nota do Centro de Treinamento Pré-Militar de Canoas
"O Centro de Treinamento Pré-Militar é um curso realizado na cidade de Canoas desde 2020, que foi desenvolvido para atender meninos e meninas dos 7 aos 17 anos. Entre os temas trabalhados estão primeiros socorros, combate a incêndio, sobrevivência, defesa pessoal, nós e amarras, entre outros. Além das instruções, o curso conta com treinamento de ordem unida, treinamento físico e promoção de ações sociais. Todas as atividades foram planejadas com o objetivo de desenvolver o espírito de liderança, trabalho em equipe, pró-atividade, agilidade, raciocínio lógico e concentração. As instruções são preparadas sob assessoria pedagógica e ministradas por profissionais especializados em cada uma das áreas.
Desde o último sábado (dia 02 de abril) nosso curso, que conta hoje com mais de cem alunos, tem sido exposto nas redes sociais através de uma gravação não autorizada e fora de contexto, acompanhada de manchetes que não reproduzem a verdade. Quem nos conhece e acompanha o nosso trabalho, testemunha que o objetivo do Centro de Treinamento é trabalhar valores como família, respeito e disciplina, e que estamos constantemente aperfeiçoando nossa metodologia de trabalho. Os inúmeros testemunhos de pais e responsáveis asseguram que estamos no caminho certo e contribuindo positivamente no desenvolvimento dos alunos.
Por fim, queremos reiterar o nosso compromisso e informar que a música, motivo da acusação, tradicional em atividades de TFM (Treinamento Fisíco Militar), apesar de ter como único propósito gerar engajamento e motivação a quem canta, está sendo reavaliada por uma profissional de educação. Lamentamos profundamente as manifestações irresponsáveis com distorção das informações e objetivos escusos e, sobremaneira, com a propagação das imagens de menores não autorizadas, para o qual a coordenação juntamente com os pais dos alunos, estão tomando as devidas medidas reparadoras."
Fonte: Jornal VS