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Audiência na Assembleia Legislativa discute erros, acertos e lições das enchentes na Região Metropolitana

A Comissão de Segurança, Serviços Públicos e Modernização do Estado da Assembleia Legislativa (ALRS) promoveu nesta segunda-feira (8), no Plenarinho, uma audiência pública sobre o sistema de proteção contras as cheias na Região Metropolitana, suas falhas e o que precisa ser feito para o funcionamento adequado dos diques de Porto Alegre, Canoas e São Leopoldo, instalados a partir da década de 70.


O encontro, com a presença de gestores municipais, técnicos, representantes de empresas de saneamento e bacias hidrográficas, foi proposto e conduzido pelo deputado Miguel Rossetto (PT). Para o parlamentar, que também preside a Frente das Águas da ALRS, é necessária a avaliação de todo o sistema, implantado em outro cenário climático. Rossetto entende que o RS não está preparado para proteger as pessoas, as cidades e a natureza.


“Considero esse um dos desafios mais importantes que o Estado tem pela frente. Temos que reposicionar nossa agenda, e esse debate deve acontecer com muita intensidade nos municípios. Queremos entender o que funcionou, o que deu errado e por quê”, reforçou. O deputado ainda anunciou que o governo federal garantiu recursos para atualizar projetos da Metroplan de 2012, para proteção contra cheias no Arroio Feijó e rios Gravataí, Sinos e Caí, além de Eldorado do Sul.


Canoas


O secretário de Obras de Canoas, Guido Bamberg, apresentou os principais números da tragédia e as ações emergenciais da prefeitura. “Foi um município duramente atingido na maior cheia da nossa história. Ninguém estava preparado para tanta chuva em curto espaço de tempo, após 35 alertas de evacuação. De 28 de abril a 4 de maio houve um nível de precipitação 415 mm, que elevou o nível do Guaíba a 5,35 m”, lembrou.


A perda estimada da arrecadação é de R$ 204 milhões até dezembro de 2024; das 27 unidades básicas de saúde, 20 foram danificadas; das 4 unidades de Pronto Atendimento, 3 ficaram submersas e o Hospital de Pronto Socorro comprometido; da rede de ensino infantil e fundamental que estavam na região alagada, 41 das 83 escolas municipais foram atingidas; 28 mil empresas afetadas (56,3%); 180 mil pessoas atingidas e mais de 70 mil residências inundadas. A mancha da inundação atingiu diretamente mais de 50% do território da cidade.


O rompimento do dique Mathias Velho/Harmonia junto à casa de bombas número 6, e do dique Rio Branco/Fátima, em 3 de maio, despejou 88 milhões de metros cúbicos de água na região oeste da cidade, segundo dados do IPH/Ufrgs. “A partir daí, quando a água começou a baixar, tivemos um trabalho exaustivo. O bairro Mathias Velho conseguimos esvaziar em 28 dias; e em 32 dias secamos a cidade. A metade do tempo previsto”, completou.


O sistema atual de proteção da cidade conta com 8 casas de bombas. Para o secretário, a previsão de novos diques, requalificação das casas de bomba e elevação de diques atuais é urgente e envolve investimento de R$ 1,5 bilhão. “Naquele momento, só não inundou o centro da cidade por ser elevado. Nós precisamos avançar nesse sistema de proteção com muita celeridade”, enfatizou.


São Leopoldo


Fabiano Camargo, coordenador da Defesa Civil de São Leopoldo, apresentou mapas das áreas não protegidas por diques que tinham ocorrência de inundações, imagens de junho do ano passado com alagamento em várias regiões da cidade e do evento de maio, quando houve o extravasamento do sistema de cheias, construído com base na enchente de 1941.


A cidade teve 34,1 mil unidades habitacionais atingidas; 130 mil pessoas afetadas; cerca de 20 mil desabrigados atendidos em 130 abrigos atendidos pela prefeitura, além de abrigos voluntários. Segundo Camargo, cerca de 700 pessoas continuam sendo assistidas em abrigos públicos atualmente.


Lições da crise


Engenheiro ambiental e doutor em Recursos Hídricos e Saneamento Ambiental, o professor Maurício Paixão, do Instituto de Pesquisas Hidráulicas (IPH) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), falou sobre as lições da crise e como devem ser as respostas ao desastre. Conforme o pesquisador, são cinco etapas: prevenção, mitigação, preparação, resposta e recuperação. Para ele, as três primeiras não foram feitas de forma satisfatória, a resposta foi a possível e agora todos empenham esforço na recuperação.


Paixão considerou importante a atuação de voluntários, pois se a mesma não existisse, certamente o cenário teria sido muito pior. Também pontuou o conhecimento da comunidade local para dar orientação para as equipes se moverem e a atuação das corporações. “As situações foram bem dramáticas em função da emergência, não havia equipamentos adequados. Medidas estruturais funcionam, e obras são importantes sim. Mas eu também sou incentivador de soluções não estruturais, como a educação, por exemplo”, acrescentou.


Metroplan


De forma virtual, o diretor superintendente da Metroplan, Francisco Horbe, fez um relato da situação dos projetos da entidade voltados à contenção das cheias que estão em andamento. No projeto executivo, Horbe defende cinco eixos estruturantes: criação ou fortalecimento de órgão metropolitano como uma entidade de gestão integrada entre as esferas de governo; criação de um órgão de gerenciamento e monitoramento em termos de produção; centro de monitoramento e de alerta de risco; criação de fundo múltiplo para prover um banco de projetos para todo o estado e que sirva de exemplo para o Brasil; contratação desburocratizada – projeto e obras, RDC integrado; e mapeamento das regiões atingidas, remanejando moradias e estabelecimento de um plano nacional de habitação.


Pela Secretaria Extraordinária da Reconstrução do RS, o diretor de relações econômicas, Ronaldo Zulke, informou que já existe decisão do governo federal sobre obras emergenciais de restabelecimento dos diques e das casas de bombas. Será feito a partir de encaminhamento do Ministério da Integração junto às prefeituras da Grande Porto Alegre.


Paralelamente, o projeto da Metroplan será ampliado, com a utilização da inteligência e das pesquisas locais. Sobre o sistema amplo de proteção, disse que precisa ser desenvolvido mas que leva cerca de 3 a 4 anos.


Fonte: Correio do Povo

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