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Foto do escritorGuilbert Trendt

Crianças órfãs convivem com luto por pais mortos nas enchentes de maio

Imagem: arquivo pessoal.

Há quatro meses, a enchente que devastou o Rio Grande do Sul deixou filhos órfãos e com um desafio doloroso: lidar com a saudade. Ao todo, 183 pessoas morreram e 27 permanecem desaparecidas, de acordo com a última atualização da Defesa Civil.


Os irmãos Arthur Miguel, de 5 anos, e Anthony Gael, de 6, vão crescer sob os cuidados dos avós. Os pais, Paloma Melo da Silva e Andrigo Oliveira de Ávila, ambos com 25 anos, morreram nos primeiros dias das fortes chuvas em um deslizamento de terra em Boa Vista do Sul, na Serra, enquanto voltavam do trabalho.


"Sempre falam dos pais, ficam tristes. O Arthur, principalmente, fica muitas vezes sem saber o que fazer e o que dizer", conta Claudia Lima, avó materna das crianças.


Depois da tragédia, os meninos passaram um tempo morando com avós paternos em Boa Vista do Sul. No entanto, atualmente, as crianças e os avós paternos estão em Caseiros, onde a avó materna reside, para que haja mais suporte na criação das crianças. Os municípios são separados por cerca de 170 km de distância.


"Estão felizes, escola nova, amiguinhos novos e agora perto de nós, os tios, a avó, que antes eles só viam por chamada de vídeo e duas a três vezes por ano", afirma Claudia.


Já em São Jerônimo, a família de Jeisel Luan Grandini de Mattos, de 34 anos, também enfrenta a dor da perda. Seus filhos, Bernardo, de 9 anos, e Bibiana, de 2, perderam o pai quando a água invadiu completamente a casa. Para o primogênito, a aceitação está sendo difícil.


"A pequena não entende muita coisa. O maior está sofrendo muito, e não está conseguindo conviver conosco. Ele chora bastante, não gosta de ouvir falar no nome do pai", conta a irmã de Jeisel, Letícia Grandini.


Atualmente, as crianças estão morando com as suas respectivas mães, sendo uma em Caxias do Sul e outra em Charqueadas. Contudo, sempre que possível, Letícia tenta visitar as crianças e prestar apoio.


"Temos dias e dias, muitas vezes dói demais e fica quase insuportável, outras vezes tentamos aceitar a vontade de Deus. É um sentimento que não desejo pra ninguém nessa terra. O que nos alegra são eles, e nos dão força pra continuar", explica.


Letícia, que mora na mesma região que o irmão em São Jerônimo, relata que muitos vizinhos se mudaram após a enchente. "Nós fizemos alguns reparos na estrutura da casa e ficaremos aqui. Mas, se acontecer algo semelhante, certamente vamos embora também", conta.


Fonte: g1

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