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Ernst Zeuner e a tela da chegada dos alemães a São Leopoldo


Deslocado do centro da tela, um pouco para a esquerda, está, imponente em seu cavalo branco, um homem tipicamente trajado. Chapéu de aba larga, poncho e lenço branco no pescoço. Possivelmente seja José Tomás de Lima, o inspetor da Feitoria do Linho Cânhamo, recebendo o primeiro grupo de colonos alemães, recém chegados de Porto Alegre via rio dos Sinos. Tomás de Lima parece entender pouco o que gesticulam dois homens a frente de um pequeno grupo enquanto outro grupo, de mulheres e crianças, observa tudo mais afastado.


No rio, dois lanchões, um deles com as velas ainda içadas, aguarda para desembarcar enquanto um escravo se aproxima da margem com um terceiro barco. Em segundo plano, ao fundo, quase despercebida, uma carroça aguarda o carregamento dos pertences dos colonos, que serão enviados ao seu destino final depois de tão longa viagem, uma antiga senzala, rapidamente desocupada para a acomodação dos colonos.


A tela de Ernst Zeuner é o mais conhecido registro artístico da chegada dos colonos alemães a São Leopoldo, principalmente porque estampou a capa de uma das mais famosas obras sobre a imigração alemã, o livro do historiador gaúcho Carlos Henrique Hunsche. Zeuner não estava lá, nem viveu à época da imigração, mas a cena pintada magistralmente a óleo parece muito com o que realmente poderia se esperar daquele julho de 1824. Salvo a riqueza das roupas dos colonos; é mais provável que fossem velhos trapos do que jaquetões de corte fino.


A tela original, no tamanho trinta por quarenta centímetros, e uma reprodução com o dobro do tamanho, estão expostas no saguão de entrada do Museu Histórico Visconde de São Leopoldo, no vale dos Sinos. O quadro original do artista foi doado ao museu por Maria Luiza Gottschald Schmmeling.

Nascido em Zwickau, nas proximidades da fronteira alemã com a República Tcheca, em 13 de agosto de 1895, Zeuner formou-se na Academia de Artes Gráficas de Leipzig. O artista deixou a Alemanha depois da Primeira Guerra Mundial, radicando-se em Porto Alegre.


Em 22 de outubro de 1922 foi contratado pela Livraria do Globo, como responsável pelo atelier de artes gráficas. Ali trabalhou por quase quatro décadas, de 1922 a 1960, sendo responsável, entre outras, pela capa do primeiro livro de Erico Veríssimo, “Viagem à aurora do mundo”, e de “As aventuras de Tibicuera”, este premiado pelo Ministério da Educação e Cultura.


Procurado para executar trabalhos particulares, desenhou órgãos do corpo humano para a Faculdade de Medicina de Porto Alegre, desenhos de embalagens para ovos de Páscoa e chocolates para a Neugebauer, desenhou também para a Fogões Geral e para Varig; desenhou para loterias, selos de impostos, bônus, desenhos técnicos, cartões, calendários e ilustrações para enciclopédias.


Teve destacado papel no desenvolvimento das artes gráficas no Rio Grande do Sul. Formou na Livraria do Globo uma verdadeira escola de artistas. Passaram por sua “escola” nomes como Edgar Koetz, João Mottini, Vitorio Gheno, João Fahrion, João Faria Viana, entre outros conhecidos no Brasil e exterior. Zeuner morreu em Porto Alegre, em 1967, aos 72 anos de idade.


Por Rodrigo Trespach

Fontes consultadas: Márcio Linck, historiador, diretor do Museu Histórico Visconde de São Leopoldo. Ruth Zeuner Pereira, Um artista gráfico, em Boletim Informativo do MARGS – Museu de Arte do Rio Grande do Sul, n.21, jun/jul de 1984.

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