As hospitalizações por influenza – vírus que causa a gripe – cresceram 466% nas 11 primeiras semanas epidemiológicas de 2024, na comparação com o mesmo período do ano passado. Os dados são da Secretaria Estadual da Saúde (SES) e consideram os pacientes com Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) – quadro que ocorre quando há falta de ar ou desconforto para respirar, sensação de pressão no peito, saturação de oxigênio abaixo de 95% e coloração azulada de lábios ou rosto (cianose).
Até o último sábado (16), o vírus foi responsável pela internação de 136 pessoas no Estado. Haviam sido 24 hospitalizações no mesmo período de 2023. A contabilidade de pacientes com quadros graves da doença deve aumentar, pois 196 casos aguardam resultado laboratorial para a identificação do vírus. A proporção de hospitalizações foi maior em pacientes a partir de 40 anos.
Houve também aumento no número de óbitos por gripe: sete pessoas morreram por conta da doença nas 11 primeiras semanas epidemiológicas deste ano. Em 2023, no mesmo período, foram duas.
A disparada nos casos de influenza no país fez o Ministério da Saúde (MS) anunciar, em fevereiro, a antecipação da campanha de vacinação para 25 de março. O Estado recebeu 480 mil doses de imunizantes na segunda-feira (18) e deve começar o trabalho de imunização nos próximos dias.
"O aumento de casos de influenza começou em fevereiro e tem se intensificado nas últimas semanas. Não era algo esperado, ao menos em anos pré-pandêmicos. Até 2020, tínhamos um caráter sazonal do vírus, que começava a circular em abril e maio. Agora vimos começar [o aumento de casos] no meio do verão, bem antes do outono", afirma Alexandre Zavascki, chefe do Serviço de Infectologia e Controle de Infecção do Hospital Moinhos de Vento.
Os motivos que levaram à mudança no comportamento das infecções não estão claros para os estudiosos, segundo Zavascki. "Tem sido difícil explicar essa perda de sazonalidade. É como se tivesse ocorrido uma desregulação no ciclo da influenza, que é classicamente associada ao frio. Temos observado que, desde dezembro de 2021, quando tínhamos muitos casos de covid-19, ela começou a aparecer fora de época. São três anos consecutivos com ocorrência de momentos de gravidade fora do inverno", explica Zavascki.
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Segundo o boletim mais recente que mapeia as doenças respiratórias no RS, divulgado pela Secretaria de Saúde na semana passada, a cobertura vacinal dos gaúchos contra o vírus influenza em 2023 ficou distante da meta do Ministério Saúde (MS), que é imunizar ao menos 90% em cada grupo. Idosos são os mais protegidos: 61,6%; crianças, com 43,1%, são os indivíduos com a menor imunização.
Veja o percentual de vacinação de cada grupo no Estado:
Povos indígenas – 58,4%
Idosos – 61,6%
Trabalhadores da saúde – 53,9%
Professores – 52,3%
Crianças –43,15%
Gestantes – 54%
Puérperas – 49,4%
Conforme Zavascki, a baixa cobertura pode, em parte, ajudar a explicar mudanças no perfil da gripe no Estado. "A diminuição da cobertura vacinal reduz a imunidade coletiva, facilitando a circulação de vírus. A vacina começa a exercer proteção significativa em duas semanas e protege quem se imunizou recentemente e quem está há mais tempo sem se vacinar. A imunização é importante porque não sabemos quando será o pico de casos, como sabíamos, no passado, que ocorreria em junho ou julho", acrescenta.
Covid-19: menos mortes, mas casos em alta
A análise dos casos de SRAG mostra que as hospitalizações por conta do Sars-CoV-2 (vírus da Covid-19) caíram 25,7% nas 11 primeiras semanas epidemiológicas – de 880 para 654. Essa quantidade deve aumentar porque há casos sem resultado laboratorial para a identificação do vírus, segundo a Secretaria da Saúde.
Somado a isso, a Covid-19 registrou queda de 42,6% no número de mortes no Estado: de 216 óbitos em 2023 para 126 neste ano, no mesmo período de comparação. O RS, porém, vive uma escalada nos diagnósticos positivos da doença. Foram 6.270 em janeiro, 14.439 em fevereiro e 12.770 em março (até esta segunda), conforme o painel da SES.
"O aumento de casos está relacionado ao maior contato entre as pessoas, que normalmente observamos com o retorno às aulas e ao trabalho no fim de fevereiro e março. Não tem a mesma magnitude do que vimos em 2020, 2021 e 2022", afirma Fernando Spilki, virologista e professor da Universidade Feevale.
Segundo ele, o cenário tem a ver também com a evolução do agente causador da Covid-19.
"Estamos vivendo um momento de diversificação: bastante linhagens [do vírus] circulando, o que gera esses surtos. O que nos preocupa é que é mais uma pressão sobre o sistema de saúde, junto com o surto de dengue que estamos vivenciando e que não é de pequenas proporções", acrescenta.
Segundo o boletim da Secretaria de Saúde sobre a SRAG, o Sars-CoV-2 seguiu como o vírus mais comum encontrado em coletas feitas para traçar o perfil da proporção de síndrome gripal no Estado, nas nove primeiras semanas do ano. Veja o resultado:
Sars-CoV-2: 59,7%
Influenza A (H3N2): 25,3%
Vírus Sincicial Respiratório: 5,6%
Influenza A (H1N1): 3,4%
Influenza B: 1,3%
Influenza A não subtipado: 4,7%
Os profissionais da secretaria identificaram 26,1% de positividade para Sars-CoV-2 em 2023 e 42,1% em 2024 nas amostras, quando consideradas as nove primeiras semanas epidemiológicas de cada ano.
Já as hospitalizações por Vírus Sincicial Respiratório (VSR) – outro que leva a quadros de SRAG – caíram 53,7% nas 11 primeiras semanas epidemiológicas – de 134 para 62. O número pode aumentar, porque há registros sem resultado laboratorial para a identificação do vírus. Segundo o levantamento, mais de 90% das internações tiveram como pacientes crianças menores de cinco anos. A doença causou uma morte no ano passado e nenhuma em 2024, nas 11 primeiras semanas.
Fonte: GZH
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