Nesta quarta-feira (27), o Programa Start News recebeu a contadora de histórias, escritora e uma referência na literatura infantojuvenil, Léia Cassol, que compartilhou suas reflexões sobre a importância das narrativas para a formação emocional, social e cultural das crianças.
Com uma trajetória marcada pela paixão pelos livros e pelo encantamento das histórias, Léia conecta seu trabalho às memórias de infância, à valorização dos clássicos e à criação de personagens que dialogam com o presente, sempre com um olhar atento para os desafios da contemporaneidade.
Ao longo da sua trajetória, Léia Cassol já foi patronesse das feiras do livro de Ivoti, Torres e Portão, além de ser a homenageada na Feira do Livro de São Leopoldo em 2022.
Histórias que começaram em casa e seguem pelo mundo
Léia descreveu como sua relação com as histórias teve início em sua infância no interior do Paraná, ao lado do pai, que transformava manhãs de chuva em momentos mágicos ao narrar contos de reis, rainhas e aventuras ao redor do fogão à lenha. Esse amor pelas histórias acompanhou Léia até sua adolescência, quando, aos 16 anos, se mudou para Porto Alegre começou a trabalhar em uma editora de livros. “De tanto contar as histórias dos outros, comecei a criar as minhas”, relembrou.
Hoje, com uma carreira de quase 30 anos como contadora de histórias e 94 livros publicados, Léia é um ícone da literatura infantojuvenil. Para ela, contar histórias não é apenas profissão, mas uma maneira de preservar tradições e transformar vidas. “As histórias que ficam no coração são as que carregamos para a vida inteira. É isso que procuro transmitir em tudo o que faço”, destacou.
O poder das histórias para formar leitores e cidadãos
A escritora explicou como as histórias podem ser ferramentas poderosas para despertar o interesse pela leitura e ajudar as crianças a construir valores. “Os personagens da nossa infância têm tudo a ver com quem somos hoje. Quando percebemos isso, reler essas histórias nos ajuda a enfrentar os desafios do presente”, refletiu.
Ela também valoriza o uso de intertextos em suas obras, trazendo personagens de clássicos, como Alice no País das Maravilhas ou O Pequeno Príncipe, para dialogar com novas narrativas. Essa abordagem, segundo Léia, desperta a curiosidade e motiva os leitores a explorar o universo literário de maneira mais ampla e enriquecedora.
Personagens, cores e conexão emocional
Léia compartilhou ainda a origem de sua icônica personagem, a Menina do Cabelo Roxo, que nasceu de uma experiência na Feira do Livro de Porto Alegre. Inicialmente, a escritora pintava os cabelos de cores vibrantes para ser facilmente reconhecida pelos leitores. “Foi na Feira do Livro que percebi como as crianças se conectavam com a personagem. Desde então, nunca mais deixei de ter o cabelo roxo”, contigou.
Além disso, Léia celebra o poder das histórias locais, relembrando do novo livro, Era Uma Vez em São Leopoldo, que combina personagens fictícios com elementos históricos da cidade. Para ela, esses livros ajudam as crianças a compreender suas origens e a valorizar suas identidades culturais e também acredita que unir o prazer da leitura com o aprendizado é essencial para formar leitores conscientes e críticos. A contadora de histórias também trabalha com livros que aliam literatura e educação, que mistura uma história fictícia com boxes informativos sobre a história real do município.
Desafios da leitura em tempos digitais
Em suas falas, Léia destacou a importância do papel dos pais e educadores no incentivo à leitura. Para ela, o desafio não está nas crianças, mas nos adultos que moldam os hábitos delas. “Se um pai dá um celular ao bebê, ele está dizendo que aquilo tem valor. Se der um livro, estará transmitindo outro valor”, afirmou.
Ela criticou o excesso de estímulos visuais e propõe um equilíbrio entre tecnologia e literatura. “Livros, assim como brinquedos, devem estar disponíveis no cotidiano das crianças. Rasgou? Ensine a cuidar. Só assim o livro se tornará parte da vida delas”, explicou Léia.
A escritora também sugeriu alternativas práticas, como criar diários para adolescentes, incentivando-os a expressar suas ideias e sentimentos. “Muitas vezes, os jovens têm dificuldade em criar histórias porque estão acostumados a reproduzir enredos de jogos ou filmes. Trabalhar com textos pessoais pode ajudar a resgatar a criatividade e a imaginação”, argumentou.
Histórias como ferramentas de ressignificação e aprendizado
Léia acredita que contar histórias é mais do que entreter: é uma maneira de ressignificar experiências e criar conexões emocionais. “Quando você conta uma história para uma criança, está dando a ela ferramentas para enfrentar os desafios diários”, contou.
Ela reforçou que a prática de contar histórias é um ato de afeto e proximidade, essencial tanto para pais quanto para educadores. “Estar junto, contar histórias, conversar: são momentos que criam memórias e fortalecem os laços”, afirmar.
Léia Cassol defendeu ainda que o ato de contar histórias é um dos maiores legados que podemos deixar para as próximas gerações. Ao unir narrativa, criatividade e educação, ela mostra que as histórias têm o poder de formar leitores, construir valores e resgatar a humanidade em tempos tão acelerados.
“Contem suas histórias, sejam elas sobre sua infância ou sobre o que você sonhava fazer quando era criança. Através das histórias, podemos ressignificar a infância e criar um futuro melhor. Afinal, a vida é feita de histórias, e nós somos os protagonistas delas”, concluiu Léia.
A gravação completa do Programa Start News está disponível nos canais da TV Start News no YouTube e Facebook, e tem reprise nesta quarta-feira (27), às 20h20, na radiostart.com.br.
Confira a entrevista completa:
Amanda Wolff, da Redação Start
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