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Foto do escritorMoisés Mendes

Moisés Mendes: a conje de Sergio Moro, o filho de Jorginho Mello e o padre Lancellotti

Se o padre Júlio Lancellotti tivesse ido com Sergio Moro e Rosângela Moro a Buenos Aires, em setembro, com despesas pagas pelo Congresso, dificilmente seria investigado


Se tivesse sido convocado como orientador espiritual da família do governador Jorginho Mello, de Santa Catarina, poderia ficar tranquilo.


Mas o padre será investigado por uma CPI da Câmara de Vereadores de São Paulo porque protege os pobres e os moradores de rua. Padre não tem imunidades.


A mulher de Sergio Moro – que sempre se apresentou na mídia e nas redes sociais como mulher de Sergio Moro – é deputada federal e tem imunidades.


Ela foi em setembro a um evento da extrema direita em Buenos Aires, acompanhando o marido, como conje, e teve as despesas pagas pela Câmara.


Foi como conje mesmo, apenas como acompanhante, porque não há provas de que tenha participado do evento em comissões ou como palestrante.


O casal gastou R$ 23,6 mil em quatro dias na capital argentina. Foram reembolsados. Tudo pago por Câmara e Senado. Diárias em hotéis e diárias por estarem fora do país. Tudo pago por nós todos.


Moro falou no evento sobre moralidade na política. Sobre corrupção. E sobre os delitos cometidos pelos que confundem coisa pública com coisa privada.


Se estivesse ido junto a Buenos Aires, para rezar durante o evento, o padre Lancellotti estaria hoje numa boa.


E se tivesse proximidade com a família do governador catarinense, Lancellotti poderia ser conselheiro espiritual do filho de Jorginho, o advogado Filipe Mello, e estaria livre de acusações.


Filipe foi nomeado pelo pai para chefe da Casa Civil do governo dele. Não pode ser acusado de nepotismo, porque é um cargo político por nomeação.


Um pai governador pode nomear um filho como secretário (são muitos os casos no Brasil todo) porque não dá nada. O que pode dar problema é um padre ajudar miseráveis.


O padre Lancellotti será investigado porque a extrema direita quer entender sua obsessão em socorrer quem a extrema direita tenta matar.


Nem a mulher de Sergio Moro, na condição de conje acompanhante, nem o filho de Jorginho Mello têm com o que se preocupar. Não acontecerá nada com eles.


Mas um padre, que não tem conje nem filho, pode até ser indiciado ao final da CPI da Câmara paulistana, se tipificarem como crime o fato de que ele dá o que comer a quem sente fome e mora na rua.


A moralidade que Moro e Jorginho defendem, sempre com Deus acima de tudo, faz vista grossa a viagens de conjes pagas com dinheiro público e a nomeações de filhos em funções públicas.


O padre Lancellotti não está sendo visado por ser padre, mas por ser um religioso amigo dos sem-teto.


Lancellotti sabe bem da vida boa de religiosos que, ao invés de darem alguma coisa aos pobres, tiram deles o dízimo que sustenta a extrema direita rezadora.


*Moisés Mendes é jornalista e escreve para os jornais Extra Classe, DCM e Brasil 247.

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