top of page
Buscar

Narrando os 200 anos da Imigração: 3º Capítulo - Os primeiros anos da imigração alemã

A chegada deixaria lembranças para os imigrantes, que posteriormente seriam registradas nas cartas, havia muita vegetação, com árvores enormes e flores em profusão; muitos animais povoando as margens: jacarés, capivaras, ratões do banhado, fuinhas, tudo era um encanto ao vivo e em cores: garças, biguás, um mundo de pássaros coloridos. Um mundo novo à espera de quem fizera uma viagem de 12.000 quilômetros em busca de uma nova Pátria.


Algumas décadas atrás aquela região era praticamente coberta pela mata, com exceção de alguns caminhos e alguns campos, por onde passavam os tropeiros, que traziam gado de Vacaria e da região norte do Estado. Nas proximidades também viviam índios. Os campos eram frequentemente usados como acampamentos dos tropeiros.


O governo dava um subsídio irregular pago em víveres, algumas sementes e instrumentos agrícolas. Os colonos começaram a cultivar a terra de forma primitiva. Nos primeiros anos, muitos imigrantes tinham residências com somente duas peças, uma que servia de cozinha e a outra de dormitório onde todos os parentes dormiam em uma mesma peça.


Ainda nos primeiros anos, os imigrantes passaram a plantar também produtos plantados na Europa, tais como, o centeio, o trigo e a batata. A mata virgem era abatida e a lenha, quando seca, era queimada, após isso eram plantados o milho e a abóbora.


Os imigrantes ficavam maravilhados, pois no solo brasileiro cresciam todas as plantas de campo e de jardim que existiam na Prússia e mais uma quantia quase infinita de diferentes plantas, frutas e verduras, muitas até então desconhecidas pelos imigrantes provenientes das longínquas e frias terras do Velho Mundo. A maioria das árvores frutíferas crescia muito bem.


Os primeiros excedentes foram trocados entre os colonos, mas conforme aumentavam as colheitas e a situação melhorava, era necessário escoar a produção para mais longe e trocar os produtos por outros que não eram produzidos pelos colonos.


Surgiu então a primeira loja comercial, a venda, como era chamada popularmente. Esses comerciantes recebiam a produção dos colonos e remetiam-na pelo Rio dos Sinos para Porto Alegre. Para os habitantes do interior era muito difícil escoar a produção em tempo hábil. O mau estado das picadas tornava enormes as distâncias, demorava-se um dia inteiro para ir de Dois Irmãos a Novo Hamburgo, trajeto que só podia ser feito em dias ensolarados, pois a chuva transformava as estradas em um lamaçal. Quase não havia animais de carga, o transporte pelo rio era problemático em alguns trechos, onde havia muita mata ou trechos perigosos.

A ocupação das terras do Hinterland


Os primeiros imigrantes chegados a São Leopoldo fundaram as localidades de Hamburgerberg, Berghanschneis e Baumschneiss, ocupando regiões no entorno de São Leopoldo e na Portuguieserschneis, Picada dos Portugueses, hoje São José do Hortêncio, que anteriormente era uma fazenda do português Hortêncio Leite. Portanto, o povoado conhecido como Baumschneiss, ou Picada dos Baum (referência a uma das primeiras famílias que se estabeleceu no município), posteriormente São Miguel dos Dois Irmãos, é uma das primeiras localidades fundadas por alemães no sul do Brasil.


As três “picadas”, Berghann, Baum e dos Portugueses, eram consideradas as terras “detrás”, detrás dos morros, no caso da Picada dos Baum, dos morros semelhantes que foram chamados de Dois Irmãos, e que posteriormente deram o nome oficial a colônia, depois distrito e posteriormente município.


Com a revolução Farroupilha a vinda de outros imigrantes foi interrompida por longos dez anos, o período vivido pelos colonos e artesãos recém chegados na localidade, foi um tempo de dificuldades. O padre Amstad cita em sua obra, um breve histórico do início da Picada dos Baum: “No começo da guerra dos Farrapos, como já foi visto, estavam ocupados somente a parte anterior e plana da colônia governamental de São Leopoldo e a primeira parcela das três picadas: Dois Irmãos, Picada dos Berghan e Picada dos Portugueses. Poucos povoadores, como por exemplo, B. Mombach de Dois Irmãos, arriscaram-se cruzar pelo topo dos primeiros morros... Somente na década de quarenta, ao terminar da guerra dos Farrapos, arriscou-se a ocupação das áreas mais afastadas das picadas.

Caminhos para o Herval, hoje Dois Irmãos - tropas de cavalos transportando produtos coloniais para a cidade, entre as vegetações centenárias


Casa de colono em Dois Irmãos, possuía fábrica de Selas para senhoras


Colaboração:

Felipe Kunh Braun, Jornalista e Historiador





Apoio cultural


0 comentário
Grupo Star superior.png
Caixinha de perguntas Start.png
bottom of page