Os pescadores da região das Ilhas do Guaíba, em Porto Alegre, ainda enfrentam uma recuperação lenta após os prejuízos causados pela enchente de maio. A situação, que já era difícil devido à catástrofe ambiental, se agravou com a perda de equipamentos, embarcações e até moradias. Assim, atualmente, as famílias vivem um cenário de incertezas, agravado pela proibição da pesca no período de piracema, que vai até janeiro.
Segundo o presidente da Colônia de Pescadores Z-5, Gilmar da Silva Coelho, a enchente de maio foi desastrosa para a comunidade. “Muitos perderam materiais de pesca, casa, embarcações. Estamos correndo atrás para tentar ajudar, buscando auxílios emergenciais e outras formas de apoio, mas é tudo muito burocrático”, explica.
Conforme o presidente, neste momento, os pescadores estão recebendo um seguro defeso mensal durante o período de reprodução dos peixes. Porém, o pagamento enfrenta atrasos devido a problemas no sistema do INSS.
Além das consequências da tragédia, o assoreamento do Guaíba após a enchente dificulta a navegabilidade no Guaíba e também tem gerado transtornos. “Os rios já estavam assoreados há muito tempo. Agora, com o impacto da enchente, o governo está prometendo desassorear os canais de navegação, mas é algo paliativo. Se não for feito um trabalho sério, com estudos adequados, é só dinheiro jogado fora”, afirma Coelho.
Para os pescadores, a perda de equipamentos e a paralisação prolongada têm impacto diretamente na renda. Wellington Ferreira da Costa, que trabalha há mais de 20 anos na pesca, conta que teve prejuízo de até R$ 5 mil somente em redes e equipamentos, sem contar os danos à sua embarcação. “Só tivemos, praticamente, 45 dias para pescar, pois não conseguimos trabalhar se não tivermos energia elétrica, para ligar a luz e o freezer para armazenar o peixe. Perdi muito material e ninguém veio ajudar”, desabafa.
Ele acrescenta que a adaptação às mudanças causadas pelo assoreamento do rio, faz com que os pescadores precisem buscar novas rotas e, como consequência, passam a ter gastos ainda mais elevados, o que também torna o trabalho mais difícil. “A gente já fica dias no mato, com gastos altos de combustível e mantimentos, então a mudança faz a gente ter um gasto maior e é preciso fazer valer a pena”, afirma Costa.
A previsão é que a retomada total da pesca ocorra apenas em janeiro, quando termina a piracema. Até lá, de acordo com o presidente da Colônia de Pescadores, os profissionais esperam que os problemas sejam resolvidos e que o governo ofereça soluções de longo prazo para mitigar os efeitos.
Enquanto isso, a comunidade se adapta como pode, buscando alternativas para sustentar suas famílias e manter viva uma atividade tradicional, profundamente afetada pelas mudanças climáticas e pela falta de políticas públicas efetivas. “É a sobrevivência deles. Não tem como parar, mas as dificuldades só aumentam. O peixe também foi afetado, porque a migração natural foi prejudicada pelas condições dos rios", finaliza Coelho.
Fonte: Correio do Povo
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