
Morador do Rio de Janeiro, Milton Araújo, de 41 anos, buscou a Delegacia On-line da Polícia Civil do Rio Grande do Sul para registrar o desaparecimento da mãe, em Porto Alegre. Mônica Pereira, de 66 anos – que está em tratamento médico por sofrer com apagões de memória – foi localizada pela equipe da Delegacia de Investigação de Pessoas Desaparecidas (DPID) num abrigo da Capital.
A história de mãe e filho é uma das que chegou até a polícia durante as enchentes que atingiram a maior parte dos municípios gaúchos. Nesse período, 423 registros de desaparecimentos foram realizados no Estado. Desses casos, 231 tiveram desfecho semelhante ao de Mônica, e a pessoa foi localizada com vida – em 148 foi descoberta a morte.
O Rio Grande do Sul ainda tem, segundo dados deste domingo (31), 42 desaparecidos. Na Capital, onde a idosa sumiu, dos 45 registros, somente dois seguem sem resposta.
Um dos desafios, desde o início, foi incentivar as pessoas a registrarem o desaparecimento, para que os dados não fossem subnotificados. Em meio aos problemas de comunicação, gerados pela falta de energia elétrica e internet, além dos registros pela internet e nas delegacias, o 0800 também se tornou um canal para recebimento de casos de desaparecidos. Era pelo telefone que muitas pessoas entravam em contato para comunicar o sumiço de um parente ou mesmo buscar orientação sobre como proceder.
"Reforçamos a comunicação e o pedido para que se fizesse o registro, que é o gatilho da investigação. Existe uma ideia de que há um prazo mínimo para registrar. Mas não há. Isso foi fundamental na enchente. O registro rápido aumenta a nossa capacidade de encontro. Muitas pessoas estavam em abrigos, hospitais, locais de acolhimento, sem contato com a famílias. Outras, infelizmente, tinham falecido. Nosso objetivo é entregar as pessoas para seus familiares", afirma o o diretor do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), delegado Mario Souza.
Logo no início das inundações, quando as cidades eram tomadas pelas águas no Interior e em seguida na Região Metropolitana, foi adotada estratégia pela polícia para fazer frente aos casos de sumiços. A capacidade de investigação da delegacia especializada em apurar desaparecimentos em Porto Alegre foi ampliada. A unidade, que contava com um delegado titular, recebeu outros três – cada um passando a chefiar uma equipe.
"A previsão que tínhamos poderia levar a uma chance de números preocupantes, com muitas pessoas desaparecidas. Porto Alegre, além de ser a maior cidade, ainda teve grandes áreas atingidas. No caso de Eldorado do Sul, havia expectativa de que muitos casos poderiam também ser registrados aqui", explica Souza.
Na Região Metropolitana, as delegacias também receberam reforços, especialmente em Canoas e São Leopoldo, por estarem entre as mais atingidas. O Gabinete de Inteligência da Polícia Civil passou a prestar apoio, especialmente na produção das listas que são organizadas diariamente com o controle dos desaparecidos e divulgadas pela Defesa Civil. Os policiais utilizam essa listagem de nomes como base para as investigações.
"Muitas pessoas eram de uma cidade, mas desapareceram em outra. Foi muito necessária a comunicação entre as delegacias do departamento. Às vezes a pessoa é de Porto Alegre, mas está num abrigo em Canoas, ou vice-versa. Os servidores da DPID estão circulando na Capital e Região Metropolitana", detalha Souza.
Buscas nas ruas
Uma das medidas adotadas pela DPID após receber o registro é o contato com quem registrou o desaparecimento para verificar se a pessoa continua sumida. Depois disso, a polícia dá início a outras medidas, como buscas em endereços, verificação em hospitais, abrigos, bancos, sistemas de transporte, buscas em ruas e comércios, e videomonitoramento, entre outras.
A dificuldade de comunicação também exigiu que os policiais intensificassem as buscas nas ruas, para tentar desvendar o paradeiro dos desaparecidos. No caso de Milton, que procurava pela mãe, ela foi localizada num abrigo de Porto Alegre, no qual a idosa havia sido acolhida.
"Quando a gente vai na delegacia, faz o registro, imagina que vai embora e aquele documento vai ser engavetado e ninguém vai fazer nada. Quando abre a ocorrência pela internet, nunca imagina que vai acontecer de achar. Nunca imaginei que fossem correr atrás e eles conseguiram. Não só acharam ela, como em tempo recorde. É fantástico ", comemora o filho.
Após ser encontrada, a idosa retornou ao Rio de Janeiro num voo da Força Aérea Brasileira (FAB) e está vivendo com o filho.
Buscas e DNA
Outras instituições estão envolvidas na tentativa de localizar os desaparecidos no RS. O Corpo de Bombeiros, que realiza buscas, inclusive com auxílio de cães farejadores, conta com apoio de equipe de ao menos outros sete Estados. A mobilização para encontrar pessoas desaparecidas em regiões afetadas por deslizamentos, segundo a corporação, conta com 12 binômios (dupla formada pelos bombeiros e cães). As operações são realizadas ainda por duplas de Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Mato Grosso, Espírito Santo e Amapá.
O Instituto-Geral de Perícias também tem atuado na tentativa de identificação e encontro de desaparecidos. Uma das estratégias é a coleta de material genético de familiares, para uma eventual comparação de DNA. É possível entrar em contato pelo telefone (51) 98682-9207. Este número é exclusivo para familiares de desaparecidos.
"O IGP está trabalhando 24 horas, em busca de pessoas desaparecidas nas enchentes. Além disso, estamos realizando entrevistas com os familiares para estabelecer um perfil do desaparecido, agilizando a identificação de vítimas. Entrevistas e coletas de material estão sendo feitas em diversas localidades", afirma a diretora do IGP, Marguet Mittmann.
Após o registro da ocorrência, o familiar deve procurar o IGP para realizar a coleta de DNA e fornecer as informações. É recomendado levar documentos do desaparecido, fotografias, prontuários odontológicos, médico hospitalares e exames de imagem, caso possua. Preferencialmente devem comparecer à coleta, filhos, mãe ou pai da pessoa desaparecida.
Fonte: GZH
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