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Projeto da UFRGS produz 800 rodos de madeira para limpeza após a enchente


Imagem: divulgação/ UFRGS.

Com a água baixando, o desafio agora é outro: o lodo. Em áreas atingidas pela enchente em Porto Alegre, uma espessa camada de barro remanescente das águas precisa ser removida. Para isso, além dos equipamentos de proteção individual, é necessária uma ferramenta apropriada em resistência, formato e tamanho – como um rodo de madeira.


Voluntários da Faculdade de Arquitetura (FA) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) desenvolveram um modelo de fabricação digital de rodos, já tendo produzido 800 unidades. Outras 2 mil estão planejadas para a próxima semana. Para o vice-diretor da FA, Everton Amaral, a comunidade acadêmica deve servir à população como instituição pública.


"Nós não podemos ficar simplesmente parados, temos que tomar uma atitude e fazer parte desse processo de reconstrução da cidade. A Faculdade de Arquitetura, no seu corpo docente e discente, todo o voluntariado que está se predispondo a ajudar, a gente está aqui para fazer isso acontecer", aponta o vice-diretor.


O grande diferencial da iniciativa da universidade é a rapidez na produção. Os rodos servem para um momento bastante específico da limpeza, que é enquanto o lodo ainda está úmido. Depois de seca, a terra deve ser retirada com uma pá.


Envolvimento de professores e alunos


Observando outras iniciativas de fabricação de rodos no Estado, professores da Faculdade de Arquitetura da UFRGS perceberam que o processo feito em marcenarias poderia ser acelerado usando fabricação digital. A técnica inclui o corte do material usando lasers e fresadoras, permitindo agilidade em remover o material de forma angulada, como requerem os modelos dos rodos. Com as peças prontas, não é necessária mão de obra especializada para finalizar a produção, dando a oportunidade para alunos voluntários.


"A gente aparafusa alguns com os alunos, daí eles já pegam a manha da ferramenta e montam sozinhos. É muito simples a montagem mesmo", explica Bárbara Lorenzoni, doutoranda da FAU e uma das idealizadoras do projeto.


Depois de desenvolverem os primeiros modelos na garagem de Bárbara, os protótipos foram testados com apoio da infraestrutura dos laboratórios da Unisinos e da Tecnopuc. Então, a iniciativa chamou a atenção de uma empresa, que financiou a produção da primeira leva. Os primeiros 800 rodos foram entregues à organização, que fará a distribuição solidária em kits de limpeza para pessoas afetadas. A empresa ainda não divulgou a ação.


O plano para os próximos lotes de rodos, porém, é que seja feita a distribuição direta para comunidades afetadas. Financiada por doações em pix, a fabricação das unidades tem pressa em ajudar áreas atingidas. A qualidade durável do rodo permite que ele seja usado por uma família, por exemplo, e repassado para a próxima casa da vizinhança. Para isso, é importante entender quais são os lugares onde a água está no nível adequado para o uso.


"A gente já fez contato com o DMLU para ver se a gente consegue acompanhar o processo de limpeza das ruas. A intenção é que, através da prefeitura, a gente possa obter essas informações: 'olha, tal região tá ocorrendo agora a limpeza', bom, então é lá que a gente tem que entregar o rodo", explica Everton Amaral.


O estudante de Arquitetura Gustavo Simonetto, de 22 anos, é um dos envolvidos no voluntariado. Como não foi prejudicado pela cheia, se sente responsável por ajudar os mais afetados. Encontrar uma forma de fazer isso na Arquitetura foi uma surpresa agradável.


"O que a gente faz na faculdade é sempre um tanto quanto abstrato, sabe? A gente faz vários projetos que a gente não tem a chance de ver se tornarem sólidos. Então, ver que é possível pegar a disciplina de Representação Gráfica e aplicar de uma forma que ajuda os outros é algo bem interessante", relata.


Próximo passo


Passado o período da limpeza, quando a necessidade de rodos começar a cair, o vice-diretor já pensa nas próximas atividades que vão demandar voluntários da Arquitetura. Conforme o contexto for oportuno, a faculdade idealiza participação em ações de planejamento urbano para a reconstrução das casas e de fabricação de mobiliário.


"Muita gente perdeu muitos móveis, então a gente também está pensando em iniciativas possíveis de ideias de móveis de baixo custo, de fácil montagem, de fácil fabricação, para que famílias de baixa renda possam ter acesso, talvez até por meio de doação, assim como o rodo", diz Amaral.


Arquivos abertos


Os rodos de madeira são compostos por peças de fabricação, produzidas no laboratório de maquetaria da UFRGS, e por peças de marcenaria, que precisam ser encomendadas. Para possibilitar que outras pessoas ou instituições interessadas pudessem produzir as ferramentas, a FA disponibilizou as instruções e arquivo de corte para confecção do rodo. Os documentos estão disponíveis no site da UFRGS.


Os rodos estão sendo fabricados a partir de valores arrecadados de doações para o Pix de chave arqsecretaria@ufrgs.br (em nome da diretora Eliane Constantinou).


Qualquer um pode se participar do voluntariado, mesmo não fazendo parte do curso de Arquitetura. Outras informações podem ser encontradas no Instagram da FA (@faufrgs) ou pelo e-mail da professora Léia Bruscato, arq.leiab@gmail.com.


Fonte: GZH

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