O Rio Grande do Sul contabilizou, em quatro anos, 63.567 casos de violência doméstica. A estatística foi revelada em um boletim da Secretaria Estadual da Saúde (SES). A pesquisa, lançada na última semana, abrange meninas e mulheres, de 10 a 59 anos. O levantamento apresenta casos registrados entre 2018 e 2022.
De acordo com a análise, a faixa etária representa 78% das vítimas de violências notificadas no estado gaúcho. A expectativa é que o documento auxilie serviços de assistência oferecidos por profissionais do Sistema Único de Saúde (SUS).
O boletim foi produzido pela equipe técnica da Divisão das Políticas dos Ciclos de Vida do Departamento de Atenção Primária e Políticas de Saúde (DAPPS). Na elaboração, foram reunidos dados do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan).
A análise constatou que as mulheres mais atingidas pela violência são indígenas. Elas foram vítimas em 1,8 mil casos registrados em 2022.
Já a segunda população com maior número de notificações, entre os anos de 2018 e 2021, foi a população negra. No último ano analisado, houve 762 casos de violência.
Quanto à faixa etária, meninas de 10 a 14 anos representam as maiores vítimas entre as notificações realizadas no estado durante todos os anos da série histórica analisada. Dessas, vítimas indígenas, pretas e amarelas são as mais afetadas pela violência sexual.
Em dados gerais, o índice de violência é predominante na zona urbana, o que aponta para possível subnotificação de casos em relação às mulheres do campo. A baixa escolaridade também está associada às notificações de violência, ressaltando que quanto menos escolarizadas, mais vulneráveis são as vítimas.
Entre os tipos de violência categorizados no boletim, a violência física é a mais facilmente reconhecida pela sociedade e pelos profissionais de saúde, tendo em vista a forma mais explícita com que se manifesta. Esse dado, de acordo com a análise do material, está relacionado com a compreensão que se tem do conceito de violência, que muitas vezes desconsidera casos de violência psicológica, patrimonial, negligência, entre outras.
Foi constatado ainda que quase metade das notificações de violência (42,5%) são registradas em atendimentos na atenção terciárias, em grandes hospitais e em atendimento especializado. Em segundo lugar no número de registros está a atenção secundária (31,6%) e em terceiro a atenção primária (19,6%).
A publicação também traz um recorte sobre interrupções legais de gravidez em decorrência de violência sexual. Entre 2019 e 2022, o SUS realizou 428 procedimentos do tipo no RS.
O documento reflete a violência contra meninas e mulheres como um problema que ultrapassa os níveis de gestão (federal, estadual e municipal) e busca dar visibilidade aos indicadores, como instrumentos para subsidiar futuras intervenções. Além disso, o boletim também se propõe a assegurar agendas de proteção e ampliação do acesso universal e integral aos serviços de saúde às vítimas de violência.
Fonte: Correio do Povo
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