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A semana das sobras e das promessas - Por Nana Vier

Existe uma semana curiosa no calendário. Aquela que fica entre o Natal e o Ano-Novo. Um tempo meio suspenso, sem grandes cerimônias, em que a vida anda em ritmo de vestígios. A gente segue comendo as sobras da ceia, reinventando pratos com o que ficou, abrindo a geladeira mais por afeto do que por fome. Ainda tem panetone, um pedaço de peru, um arroz diferente. O corpo já não quer tanto, mas o coração insiste. Talvez porque comida, nessa semana, seja menos sobre nutrir e mais sobre lembrar.


É também a semana das perguntas. Onde vamos passar o Réveillon? Com quem? Em casa, fora, com amigos, sozinhos, viajando, improvisando uma festa ou aceitando um convite de última hora. Diferente do Natal, que parece ter endereço fixo, mesa grande e família reunida, o Ano-Novo é mais livre. Ou mais solto. O Natal é da família. O fim de ano, quase sempre, é dos amigos. E há algo de bonito nessa escolha menos obrigatória, mais afetiva.


Os filhos crescem. Alguns passam o Natal conosco, mas no Ano-Novo já tomam outros rumos. E tudo bem. Dá um aperto, claro. Mas também dá orgulho. A vida segue seu curso natural, e a gente aprende a celebrar de outras formas. Às vezes com barulho, às vezes em silêncio. Às vezes cercados, às vezes recolhidos. Também isso é maturidade.


Essa semana carrega esperança. Um novo ano se aproxima trazendo promessas, mudanças, novidades. Ano de eleição, de expectativas coletivas e desejos pessoais. A gente sempre acredita que agora vai. Que muita coisa nova vai acontecer. Que certos hábitos vão mudar, que sonhos antigos finalmente sairão da gaveta. E quando chega dezembro outra vez, percebe que talvez não tenha sido tão revolucionário assim. Mas foi transformador. E isso conta muito, mesmo quando a transformação é discreta.


Se eu fizer a contabilidade do meu ano, o saldo é positivo. Foi um ano cheio. De crescimento, amadurecimento e fortalecimento de vínculos. Conheci pessoas novas, mantive amizades antigas ainda mais firmes, tive saúde — que, no fim das contas, é o que realmente importa. Aprendi a respeitar meus limites e a valorizar ainda mais o que é simples.


Foi um ano intenso. De muito aprendizado. Iniciei uma nova carreira, completamente diferente de tudo que já vivi. Depois de uma vida inteira dedicada à educação, fui convidada a trabalhar na área pública. Um universo novo se abriu diante de mim. Desafiador, exigente, fascinante. Nessa altura da vida, descobrir que ainda posso aprender tanto, que ainda posso me reinventar, só me deixa mais feliz e mais esperançosa. A maturidade, afinal, não é o fim do caminho — é outra paisagem.


E enquanto penso nisso tudo, já imagino a praia, a cervejinha gelada, as férias merecidas. Porque viver cansa — mas cansa bonito. Que o próximo ano venha generoso, que realize sonhos, que traga saúde, encontros bons e alegrias simples. E que todos possam ser tão felizes quanto eu fui e sou.


Feliz Ano-Novo.


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Nana Vier, é professora e escritora

 

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