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Narrando os 200 anos da Imigração: 20º capítulo - Ocupação do território com a chegada dos alemães

Atualizado: 23 de abr. de 2022

Ocupação do território


Fonte: Museu Histórico Visconde de São Leopoldo

Ressaltasse que São Leopoldo era zona de sesmarias e que a ocupação do território foi anterior à colonização alemã. Assim, tem-se registros da existência de negros africanos e de açorianos no Rio Grande do Sul, desde o século dezoito. No entanto, tornasse difícil resgatar a participação dos negros e também dos açorianos numa região cuja história apresenta vasta bibliografia sobre a colonização alemã e escassa participação das demais etnias no processo de desenvolvimento.


Para a rememoração da história de São Leopoldo é importante destacar que em 1788, a Coroa Portuguesa decidiu transferir a Real Feitoria do Linho Cânhamo instalada no Rincão do Canguçu – atualmente município de Pelotas para o Faxinal do Courita e atualmente município de São Leopoldo.


Assim, a Real Feitoria do Linho­ Cânhamo foi estabelecida pelo Governo Imperial, tinha como objetivo incentivar o plantio do linho ­cânhamo em substituição à importação do linho de riga dos países bálticos. Este empreendimento econômico utilizava mão-de-obra escrava que trabalhava na plantação do linho cânhamo e na produção de cordas e de velas para barcos, sendo que o escoamento da produção ocorria pelo rio dos Sinos até Porto Alegre, constituindo-se dessa forma, na primeira economia da região.


Uma noção do número de negros estabelecidos no município, pode ser extraída da carta escrita por Jozé Feliciano Fernandes Pinheiro a Jozé Thomas de 2 Lima 1 sobre o fim das atividades da Feitoria em 1824, cita a existência de 321 escravos. Esse dado é consistente com os apontados em estudos de autores como Moehlecke, baseados em recibos de compra e venda, registros de batismo, casamento e óbito da igreja protestante e católica. Dessa forma, acredita-­se que muitos negros permaneceram com os imigrantes alemães e contribuíram para a construção da antiga colônia de São Leopoldo.


Fernando Henrique Cardoso (1977), ao fazer uma análise sobre a participação do negro na sociedade escravocrata do Rio Grande do Sul e buscando estabelecer a sua relação com a lógica capitalista, discorre que a utilização da mão-de-obra escrava ocorreu diferentemente no Brasil Meridional: de forma regular na economia mercantil para atender o mercado exportador e de forma quase insignificante na economia de subsistência. Conclui-se assim, que a participação do negro africano no processo de desenvolvimento foi “regulada pelo mecanismo econômico de produção” Cardoso (1977, p. 125).


Com referência a possibilidade de organização e ascensão social dos negros na sociedade brasileira – ressalta­se que eram tratados como mercadorias, sendo que a relação estabelecida entre os senhores e escravos ocorria de forma impositiva, sem possibilidade dos negros se expressarem, submetendo-se às ordens dos senhores e muitas vezes, abstraindo-se a própria condição de ser humano.


A vinda dos açorianos das Ilhas para o sul do Brasil, por seu turno, pode ser considerada por um lado como uma ação coordenada que visava garantir a posse das terras à Coroa Portuguesa e por outro como a busca de solução para o desenfreado crescimento demográfico e fenômenos naturais (sismos e vulcões) que atingiam a Ilha dos Açores.


A partir de 1751 iniciou-se a colonização açoriana na fronteira do Rio Grande do Sul com o objetivo de criar pequenos povoados com aproximadamente sessenta casais cada. No entanto, houve demora no cumprimento das promessas (ferramentas, armas, sementes e pagamento de pensão), fazendo com que os açorianos vivessem em condições miseráveis. Também havia uma prática do Governo de confiscar a produção agrícola (trigo) sem pagamento, fato que desestimulava a plantação e conforme aponta Ramos (1997, p. 105) “não há registro de doação de terras antes de 1765”, ou seja, os açorianos não tinham a posse da terra.


Apesar disso, destacasse o papel histórico do açoriano na apropriação e defesa do território para a Coroa Portuguesa e Graebin (2004, p. 31) enfatiza que “os açorianos foram, assim, apontados como importantes na construção de um projeto civilizatório que caminhava no sentido de agregar ao território português o que foi considerado por esta historiografia como “terra de ninguém””.


Assim, incentivados pela política colonialista da época, em 1822 nove casais de açorianos que deveriam instalar-se em Santa Catarina, preferiram o Rio Grande do Sul e foram encaminhados para a Real Feitoria do Linho Cânhamo, sendo que algum tempo depois, estabeleceram-se no chamado Rincão dos Ilhéus, em São Leopoldo, conforme Porto (1996, p. 36). A principal atividade era a cultura do trigo e a criação de pequenos animais para consumo doméstico.


Apesar do esforço da Coroa Portuguesa, a política de colonização empreendida até 1824, não havia apresentado resultados econômicos significativos. Assim, com a intenção de povoar regiões com baixa densidade demográfica, diversificar a economia, buscar mão­de­obra livre e branca, formar núcleos coloniais de pequenos proprietários e valorizar as terras, o Governo Imperial Brasileiro instituiu uma política de estímulo à imigração através de ampla divulgação inicialmente na Suíça e após, na Prússia, oferecendo os seguintes benefícios, conforme apontado por Porto (1996, p. 38):

▪ Passagem paga à custa do governo imperial;

▪ Concessão gratuita de um lote de terras de 400 braças, em quadro, ou 160.000 de superfície;

▪ Subsídio diário de um franco, ou 160 réis, a cada colono no primeiro ano, e metade no segundo;

▪ Caberia a cada família, na proporção do número de pessoas certa quantidade de bois, cavalos, etc...

E ainda:

▪ Concessão imediata da qualidade de cidadão brasileiro;

▪ Inteira liberdade de culto;

▪ Isenção por dez anos do pagamento de direitos.


No que se refere a manutenção dos subsídios do Governo Imperial aos imigrantes, Roche (1969, p. 102) afirma que “esses aspectos tão favoráveis não puderam ser mantidos, pois teriam pesado duramente no orçamento provincial”.


Os imigrantes alemães que vieram para o Brasil atraídos pela política do Governo Imperial eram, na sua maioria, descapitalizados, sofriam com os invernos rigorosos e com a escassez de alimentos e haviam saído da Europa por falta de oportunidade e perspectivas de futuro, em consequência da Revolução Industrial e do crescimento demográfico.


A tabela abaixo indica o número de imigrantes alemães que chegaram ao Brasil no período de 1824 a 1969.



Grande parte dos imigrantes que aportaram no Brasil, especificamente em São Leopoldo, a partir de 1824, era de procedência da Alemanha ocidental de uma região chamada de Hunsrück, mas haviam também imigrantes de outras regiões como: Saxônia, Würtemberg e Saxe­Coburgo. (Willems, 1980).


A estrutura social vigente no Brasil à época, latifundiária e escravocrata não instituiu mecanismos legais, administrativos e financeiros para cumprir os contratos com os imigrantes. Dessa forma, a colonização alemã, em São Leopoldo, foi marcada por tensa disputa política, pelo direito à propriedade, reconhecimento da cidadania e espaço na sociedade brasileira.


Fonte: ORIGENS HISTÓRICAS DO CAPITAL SOCIAL NO MUNICÍPIO DE SÃO LEOPOLDO­RS - Simone Manfredini


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