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O encanto das curiosidades - Por Nana Vier

Curiosidades são como pequenas brechas no tecido do mundo. Através delas, a vida nos deixa espiar o que há por trás da rotina — um segredo, uma delicadeza, uma surpresa que o olhar apressado não percebe. Saber curiosidades é cultivar o espanto, essa antiga arte que nos mantém vivos por dentro.


Você sabia que o coração de uma baleia-azul pesa quase meia tonelada e, ainda assim, bate apenas quinze vezes por minuto? E que o mel nunca estraga, mesmo depois de milhares de anos — potes foram encontrados em tumbas egípcias, ainda dourados e doces, guardando o sabor de um tempo que já não existe? Ou que as borboletas sentem o gosto das flores pelos pés e que as árvores “conversam” entre si por meio das raízes, trocando nutrientes e alertas silenciosos quando uma delas está doente?


E há mais: o polvo tem três corações e muda de cor quando sonha. Os flamingos só são cor-de-rosa por causa dos camarões que comem. As estrelas do mar não têm cérebro, mas sabem se regenerar inteiras a partir de um simples braço. E os girassóis, mesmo à noite, voltam-se uns para os outros, como quem busca companhia na escuridão.


Sou daquelas pessoas que ficam imaginando como as coisas funcionam, por que estão naquele lugar... Meu lado criança da fase do “por quê” nunca morreu. Fico pensando: como será que funciona essa máquina por dentro? Quem será que pensou nisso e inventou? Por que comemos isso? Quem descobriu que dava para comer? A curiosidade, para mim, é uma conversa permanente com o mistério. É uma forma de brincar.


São detalhes que parecem inventados por poetas, mas que a natureza escreveu com sua sabedoria paciente. O curioso é que, quanto mais descobrimos, mais entendemos o quanto ainda não sabemos. A curiosidade é isso: uma chama que se acende, mas nunca se apaga.

Há quem veja nela inquietação; eu vejo vida. Ser curioso é não aceitar o mundo como algo pronto, é brincar de desmontar as coisas para descobrir o que pulsa dentro. As crianças sabem disso melhor do que nós. Elas perguntam sem parar, não para receber respostas, mas para prolongar o encantamento. “Por quê?”, perguntam. E nesse “por quê?” mora a essência da humanidade — a sede de compreender.


Gosto de pensar que cada curiosidade é um fio puxado e, quando o seguimos, o mundo se desdobra diante de nós. Quando descubro que os cavalos dormem em pé, que há flores que só desabrocham à noite e que as estrelas que vejo talvez já tenham morrido há milhões de anos, sinto um arrepio bonito — não de medo, mas de reverência. É como se o universo piscasse para mim, lembrando que tudo é infinitamente maior do que minhas respostas.


A curiosidade é irmã da poesia. Ambas nascem do mesmo lugar. Quando deixamos de nos encantar, o mundo fica mudo. Mas quando perguntamos — mesmo sem esperar respostas — ele volta a cantar.


Talvez seja isso que os sábios chamam de sabedoria: não saber tudo, mas continuar curioso. Porque quem se espanta, vive em estado de descoberta. E viver assim é como andar por um jardim onde cada flor é uma pergunta e cada aroma é uma revelação.


No fim, não são as respostas que nos alimentam, mas sim as perguntas. São elas que mantêm acesa a centelha de aprender, de admirar, de agradecer.


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Nana Vier, é professora e escritora

 

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