O espetáculo das CPIs - Por Guilherme Louzada
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- 21 de ago.
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Poucas coisas são tão genuinamente brasileiras quanto uma CPI. Quando se fala no assunto o povo já suspira, descrente, e arremata com aquele bordão tão nacional quanto o futebol: “vai acabar em pizza”. Não se trata de sarcasmo sofisticado, mas de uma verdade amarga repetida como ladainha nas esquinas. O brasileiro sabe, com a astúcia dos humilhados, que o espetáculo parlamentar tem menos de inquérito e mais de novela das oito.
No momento da instalação de uma CPI, o parlamento desfila suas nobres intenções. Todos concordam que os fatos precisam ser investigados, que os culpados devem ser punidos e que a lei deve prevalecer. Vejamos o caso da nova CPI do INSS, que teoricamente deveria pautar parte do debate público no segundo semestre, minguou em poucas horas. No mesmo dia em que foi instalada, foi suplantada dos noticiários diante de pautas mais barulhentas: a revelação de conversas em que Silas Malafaia repreende Jair Bolsonaro e Eduardo acusando o próprio pai de ingratidão com um sutil “VTNC”.
O fato é que as CPIs não sobrevivem pela força de seus relatórios ou pela erudição de seus parlamentares. Elas respiram de holofote. Sem plateia, morrem. Com plateia, viram arena. Basta lembrar a CPI do PC Farias, a CPI do Orçamento, o espetáculo do Mensalão, a Covid-19 transformada em reality show político. E, nesse palco, não faltam frases que viralizam mais do que relatórios: da influenciadora Virgínia Fonseca, abrindo depoimento com um improvável “Deus abençoe a nossa audiência, vamos pra cima” — arrancando gargalhadas de governistas e oposicionistas — ao hacker Walter Delgatti, gaguejando diante de Sérgio Moro e disparando: “Eu li as conversas de Vossa Excelência, inclusive a parte privada, e posso dizer que o senhor é um criminoso contumaz.” São essas cenas que alimentam o espetáculo e mantêm viva a curiosidade popular.
A verdade é que uma CPI precisa de visibilidade externa para se manter viva. É o olhar indignado — e quase sempre cético — da população, mediado pela imprensa, que impulsiona os parlamentares a continuar cavando, mesmo quando a pá atinge pedra. Sem isso, tudo se dissolve na rotina burocrática do Congresso.
O Brasil já naturalizou a ideia da CPI como ritual de escândalo e esquecimento, missa de corpo presente para a moral pública. No fim, resta a sensação de que o relatório final é menos importante que a manchete do dia — e que o espetáculo, como sempre, vale mais que o veredito.

Guilherme Louzada é advogado


































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