Em Eldorado do Sul, entre casas com placas de “vende-se” e outras em reconstrução, José e Eni Espindola tentam retomar a vida após a enchente devastadora de maio, que atingiu cerca de 80% da cidade. A região, antes repleta de moradores e comércios, agora luta contra a evasão de habitantes e um sentimento de cidade fantasma. O movimento caiu muito. As pessoas se foram, e as que ficaram tentam se adaptar como podem
Juntos há 42 anos, o casal administra um restaurante no bairro Jardim Verde, que se tornou mais que um simples negócio durante a tragédia. Quando as águas baixaram, o primeiro andar serviu como abrigo para voluntários, ponto de distribuição de doações e espaço de apoio à comunidade.
A adaptação do negócio foi inevitável. O salão de festas do restaurante transformou-se no novo espaço de atendimento, e o tradicional buffet deu lugar a um serviço mais enxuto, com pratos feitos e opções à la carte. “Caiu para a metade o número de clientes, e à noite quase ninguém aparece. A cidade, onde criamos nossas raízes, hoje parece uma cidade fantasma”, lamenta José, de 67 anos, que também observa que muitos empreendedores da cidade fecharam as suas portas para sempre.
Eni, de 64, mantém a fé e a esperança apesar dos desafios. Ela, que antes era dona de um bazar, agora ajuda na cozinha do restaurante, entretanto considera reabrir a sua loja, para atender clientes antigos. Mas afirma que será em um espaço mais modesto e não vai investir na mesma quantidade de produtos que tinha antes.
Além da carga emocional, o casal também enfrenta dificuldades financeiras. Alguns funcionários antigos foram dispensados e ainda teve a necessidade de comprar material para a nova cozinha do restaurante. Eni revela que no momento a escolha é permanecer na cidade tanto pelo seus clientes, quanto pelos funcionários.
A lembrança do dia da enchente permanece vívida. Eles foram resgatados de barco que navegava na altura do segundo andar do prédio. O casal foi para a margem da BR-116 e ficou um mês na cidade de Guaíba. Além da perda dos materiais do restaurante e da loja, um carro também foi levado pelas águas.
Hoje, José e Eni são uma representação de resistência em Eldorado do Sul. Para eles, o restaurante é mais que um empreendimento; é um símbolo de união e resiliência em meio ao caos.
Fonte: Correio do Povo
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