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Se não importamos tudo, por que toda a gasolina deve ser negociada em dólar no Brasil?


Vários especialistas do mercado tecem diversos argumentos sobre o porquê é importante que a Petrobras adeque seus preços ao mercado internacional e negocie a gasolina em dólar. | Imagem: divulgação/Agência Petrobras.

Vários especialistas do mercado tecem diversos argumentos sobre o porquê é importante que a Petrobras adeque seus preços ao mercado internacional e negocie a gasolina em dólar, mas as justificativas sempre são defensivas e muito evasivas.


Neste texto, vou explicar melhor os motivos que levam a Petrobras a negociar a gasolina em dólar, como funciona o mercado e um questionamento a respeito do porquê continuamos negociando em dólar, mesmo quando conseguimos suprir a maior parte da demanda com o que é produzido internamente.


O preço do barril de petróleo, o dólar e o mercado internacional


É preciso entender que, no mercado livre e privado, existe uma questão muito importante que é a oportunidade de venda, e quanto mais livre for, melhor será para o consumidor.


O preço é o quanto se cobra por um produto. Valor, é o que o consumidor está disposto a pagar por aquilo. E o custo, é o quanto a empresa gasta para poder fabricar aquele determinado produto. Dentro dessa lógica, está a produção, que no caso do nosso mercado, estamos falando do refino da gasolina e do diesel.


O custo de se refinar é nacional, negociado em Real (R$), e isso não se discute. A Petrobras, consegue extrair mais petróleo do que se consome, mas o problema está no parque de refino que é antigo, inadequado e não possui capacidade de atender a demanda do mercado. É importante que o preço de venda seja maior que seu custo, pois garante rentabilidade para a empresa e, por isso, a precificação precisa ter algum parâmetro definido que norteie o caminho da empresa.


O processo de precificar com o mercado internacional funciona muito bem quando se tem muitos concorrentes, uma cadeia logística competitiva e abundância na oferta de produtos. Cada empresa tem suas metas, seus custos, suas ambições, sua visão de mercado e, sendo assim, consegue-se uma regulação de preços natural sem intervenção do governo.


Hoje, a intervenção do governo talvez seja um dos maiores problemas no mercado de combustíveis do Brasil. Busca-se, atualmente, uma precificação com a paridade internacional por uma questão de valor. Ora, se a empresa fabrica um produto no Brasil e lá fora, e no mercado externo consegue vender por xx dólares, por que deveria vender mais barato aqui?


Então, se é para vender no mercado interno, que seja utilizado como parâmetro, o mesmo ganho que a empresa teria se fosse vender a produção no mercado externo. Quando é definido esse tipo de política de precificação, só é possível atender um lado da cadeia: o produtor! Já o maior lado e também o mais frágil, fica descoberto: o do consumidor. E no meio de todo esse bang bang, tem o lado de quem não apita em nada, mas ainda assim leva toda a culpa: o do revendedor.


Por que o mercado não gosta de interferência na Petrobras?


Quando uma empresa coloca suas ações na bolsa de valores, ela vende suas cotas de participação e com isso arrecada milhões nos chamados IPOs. Esse dinheiro é muito importante para a economia, porque é injetado diretamente no mercado, na empresa que pode utilizar para remunerar seus sócios fundadores ou, o que geralmente acontece, é investido pensando no crescimento.


Mas o que acontece depois do IPO? Exatamente aquilo que acontece com os carros usados. Depois que uma fábrica vende o carro novo, qualquer negociação, com o carro já usado, não terá impacto nenhum diretamente no resultado financeiro da montadora. É claro que essa relação comercial tem outros ganhos, como o fortalecimento da marca e o fomento do mercado de peças (que fica vivo com o carro usado sendo passado de mão em mão). Mas o que acontece com as ações é que, depois do IPO, não é mais a empresa quem lucra com as operações, e sim quem negocia os papéis. Por que isso mexe na economia?


A bolsa de valores é um termômetro de confiança. Se tem muitos investidores acreditando no potencial dessa ou de outra empresa, a tendência é que mais e mais invistam. Assim, as empresas têm mais acesso a crédito e podem expandir suas operações, devido o seu valor de mercado estar alto. Ou seja, não são tantos benefícios assim de se ter uma política de mercado livre, acompanhando os preços internacionais, em que apenas uma empresa tem o monopólio do mercado e usa essa condição para dar lucro aos seus acionistas.


O governo tem muita culpa nisso porque não fez o dever de casa. Deixou o mercado todo fechado, liberou a Petrobras para praticar preços internacionais, mas não incentivou a entrada de mais players para competir e ajudar o mercado a se auto regular.


Está tudo errado e parece que vai demorar a consertar. Não é o governo ou o mercado que não gosta da intervenção no preço, mas sim os acionistas que deixam de ganhar quando o preço é represado. E não, eles não são os vilões. Estão corretíssimos. O erro foi do governo que não preparou o mercado para ser livre e acaba ficando no famoso “meia boca”, empurrando com a barriga. Quando se mexe nos preços, os acionistas são prejudicados porque ganham menos do que poderiam, as pouquíssimas refinarias privadas ganham menos, porque não têm força para competir com a Petrobras e os importadores não ganham, porque a diferença de preços impede que os negócios deles se concretizem.


Cada um defendendo seu negócio e seu mercado. Mas e quanto ao consumidor, quem vai defendê-lo? Fica difícil ter um mercado todo fechado, controlado em vários aspectos da cadeia e depois todos jogarem a responsabilidade em cima dos postos revendedores, que têm a missão de criar um mercado competitivo na ponta. Dá para entender isso?


Afinal, se não importamos tudo, por que toda a gasolina deve ser negociada em dólar?


Porque é mais fácil de controlar, porque melhora os ganhos e porque assim você garante um mercado livre para uma empresa monopolista mandar. Enquanto isso, as outras empresas importam ¼ do todo e garantem sua fatia desse lucrativo mercado, independente disso ser ou não bom para o consumo, crescimento e desenvolvimento brasileiro.


O maior argumento é a garantia de estoque para suprir o mercado nacional, visto que a Petrobras não consegue atender, mas isso é balela. Se o país tem uma dependência, segundo a ABICOM (Associação Brasileira de Importadores de Combustíveis), de 15% da gasolina consumida e 25% do diesel que roda em todo país, por que devo remunerar toda a produção da Petrobras igualando aos preços internacionais? Por que não fazer uma média de custo de estoque? Por que a Petrobras não importa essa quantidade restante e faz uma média ponderada?


Parece um pouco cômodo uma empresa como a Petrobras ter o monopólio do mercado, sendo que, como não consegue atendê-lo em sua totalidade com os produtos refinados, fica à espera de que a diferença seja atendida por outros players, desde que estes adquiram nos preços internacionais. Só que para isso é preciso remunerar a produção nacional com o preço internacional para equiparar os preços de vendas às distribuidoras, viabilizando e atendendo o mercado consumidor, afinal a conta sempre fica para o consumidor final.


Parece roteiro de filme de horror, mas é a realidade. A Petrobras faz do jeito dela sob a bandeira do liberalismo. Os importadores, fazem coro tocando o terror do desabastecimento. Já as distribuidoras completam o processo comprando das importadoras ou importando junto, remunerando seu estoque e obtendo ganhos. E no final, fica para o revendedor de combustíveis a triste missão de mensageiro para levar as pancadas do consumidor final que também é órfão por não ter onde reclamar. A regra é: “QUEM GRITAR MAIS ALTO, LEVA!”. Enquanto isso, o governo federal, os governos estaduais, as importadoras e a Petrobras estão ganhando de lavada dos postos de combustíveis.


Muitas desculpas e pouca solução para a gasolina em dólar


Diversas são as saídas. Basta um pouco de bom senso, conhecimento técnico e profissionalismo para colocar o consumidor, o cidadão em primeiro lugar. Nada que seja feito na canetada ou no absolutismo será eficaz. É preciso planejamento estratégico para aumentar o parque de refino e, assim, expurgar a dependência do mercado externo.


Também precisamos incentivar a entrada de mais empresas para concorrer com a gigante Petrobras e, assim, mudar a cara do mercado. Por fim, é preciso investir em logística competitiva para que as refinarias tenham possibilidade de concorrer umas com as outras e assim melhorar a oferta de produto em todo o território.


Estas são apenas algumas alternativas e a realidade é que nessa queda de braço, só quem paga a conta é o consumidor, que acuado e sem condições de revidar, desconta suas mágoas nos revendedores que aguentam as pancadas de todos. Isso faz parte e só vai mudar quando a revenda se posicionar mais fortemente, mostrando seu esforço e sua dependência da cadeia precificada em dólar que só favorece quem está em cima. Isso não é tudo, mas seria um começo importante.


Fonte: Blog ClubPetro

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