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Seis erros que levaram os ladrões de Watergate de 1972 a serem pegos


Imagem: reprodução.

A missão deles era invadir a sede do Comitê Nacional Democrata em Washington, colocar escutas na sala e fotografar documentos. Se tudo tivesse saído como planejado, ninguém jamais saberia.


Mas, em vez disso, o 17 de junho de 1972 tornou-se um dia infame. A invasão desencadeou uma série de ações que derrubaram o republicano Richard Nixon –ele foi o único presidente dos EUA que renunciou.


“Watergate é o maior escândalo político da história americana”, disse John Dean, que foi conselheiro da Casa Branca do ex-presidente Nixon, para a série documental da CNN dos Estados Unidos “Watergate: Blueprint for a Scandal”, no 50º aniversário do fato.


A invasão e o subsequente acobertamento mudaram para sempre a política americana, e “Watergate” tornou-se sinônimo de corrupção no governo. O crime ainda é referenciado no discurso político atual, como Bridgegate, Pizzagate e Deflategate.


Aqui estão seis erros que levaram à investigação de Watergate – as primeiras peças do dominó a cair no escândalo político.


Eles usaram o ‘Time F’


Enquanto presidente, Nixon criou uma unidade da Casa Branca chamada “encanadores”. Essa unidade tinha dois objetivos: investigar vazamentos de informações confidenciais e desacreditar os inimigos do governo.


Como o presidente não podia usar organizações oficiais como o FBI e a CIA para essas atividades ilegais, a Casa Branca de Nixon usou o que Tim Naftali, historiador presidencial da CNN e diretor do curso de graduação em políticas públicas da Universidade de Nova York, chama de “grupo desorganizado”.


“O país teve muita sorte que a CIA e o FBI se recusaram a ceder completamente à vontade de Nixon. Então, Nixon e seus tenentes optaram por sair das instituições estabelecidas para fazer seu trabalho sujo”, disse ele.


Em 1971, os encanadores de Nixon invadiram o consultório do psiquiatra que atendia o analista militar Daniel Ellsberg para fotografar as anotações do médico sobre o paciente, para tentar difamá-lo na imprensa. Ellsberg foi alvo de vazamento dos Documentos do Pentágono –um relatório ultrassecreto em vários volumes que revelou que os líderes americanos sabiam que a Guerra do Vietnã não poderia ser vencida.


O objetivo dos encanadores era entrar no escritório e sair sem que fossem detectados. Mas eles não conseguiram abrir a porta, que secretamente deixaram destrancada no início do dia, então quebraram uma janela, criando um incidente. Eles não encontraram nenhuma nota do psiquiatra e saíram de mãos vazias.


“Então você pensaria que seria o fim deles, mas não foi. O mesmo grupo acaba reconstituído”, disse Naftali. Para Watergate, “a liderança é a mesma e a maior parte da equipe é a mesma”.


“Não era como se a Casa Branca estivesse confiando no time A; eles estavam confiando no time F”, disse ele. “Então não é surpresa que eles tenham estragado tudo”.


Tentativas fracassadas aumentaram as apostas


Os cinco homens encarregados de invadir o Comitê Nacional Democrata fizeram várias tentativas. Quanto mais tentativas, maior a probabilidade de que fossem pegos.


“Na primeira vez, eles falharam completamente porque a porta estava trancada e eles não tinham o chaveiro certo com eles”, disse Naftali.


“Na segunda vez, eles não pareciam saber onde ficava o escritório de Larry O’Brien”, explicou Dean. O’Brien era o chefe de campanha do senador democrata George McGovern, que estava concorrendo à Presidência contra Nixon em 1972. “Então eles colocaram escutas em uma sala de conferências vazia”.


A terceira tentativa teve como objetivo corrigir os erros anteriores.


“Eles queriam mover uma escuta. Eles tinham mais três escutas que queriam plantar. Eles também iam colocar um dispositivo de escuta em um detector de fumaça”, disse Naftali. “Esta teria sido uma operação de espionagem maciça se tivesse sido bem-sucedida”.


Depois, Dean lembrou de Gordon Liddy, o organizador do arrombamento de Watergate e ex-agente especial do FBI, dizendo a ele: “Eu não deveria ter envolvido tantas pessoas. Mas tivemos que voltar lá. […] Eu sei que estraguei tudo terrivelmente, e eu posso entender se você quiser se livrar de mim”.


Trava da porta com fita foi descoberta


Um simples erro de James McCord, um ex-oficial da CIA que foi um dos ladrões, levou um vigia a frustrar o crime do século.


“McCord era o especialista em escutas telefônicas da equipe”, disse Naftali. “E ele insistiu em colocar fita adesiva nas portas. E perguntaram a ele: ‘você se lembrou de remover toda a fita?’ Ele disse que sim. Mas não tinha feito isso.”


A equipe havia colocado fita adesiva em todas as travas das portas –do porão ao sexto andar, onde ficavam os escritórios do Comitê Nacional Democrata– para evitar que as portas de fechamento automático funcionassem.


O segurança de Watergate Frank Wills viu a fita colada no trinco de uma porta. Ele ligou para a polícia à 1h47 e relatou o arrombamento.


Anos mais tarde, um dos assaltantes, Eugenio Martinez, disse a Naftali em um relato para a Biblioteca Nixon que ele ficou surpreso com todos os erros e que as falhas eram difíceis de entender.


Falha de comunicação


Um plano B estava pronto no caso de a polícia ser notificada, mas isso também foi arruinado.

Um vigia, Alfred C. Baldwin, estava do outro lado da rua com um walkie-talkie para alertar os ladrões se alguém estivesse chegando.


Naftali disse: “McCord baixou o volume do walkie-talkie. Então, quando o vigia pôde ver a polícia se movendo em direção à sede do Comitê Nacional Democrata, os ladrões não receberam o alerta”.


Quando Baldwin finalmente conseguiu notificar o grupo, já era tarde demais: a polícia já estava no prédio. Eles avistaram os cinco homens, todos usando luvas cirúrgicas, agachados atrás das mesas.


Os ladrões não se vestiram como ladrões


Depois que os homens foram presos, Ron Ziegler, o secretário de imprensa da Casa Branca, minimizou a invasão como um “roubo de terceira categoria”.


Os jornalistas designados para cobrir a acusação assumiram que essa não era uma história relevante. A jornalista Lesley Stahl brincou com a CNN que inicialmente parecia ser um “hambúrguer de nada” e disse que havia conseguido a tarefa porque o editor deu a história para “a recém-chegada”.


Mas, rapidamente, os sinais de que essa história era significativa se tornaram difíceis de ignorar.


Os cinco intrusos –Bernard Barker, Virgilio Gonzalez, Frank Sturgis, Martinez e McCord– compareceram ao tribunal horas após a prisão vestidos de terno.

“Em nove meses na ronda policial, eu nunca tinha visto um ladrão que estivesse bem vestido”, disse o jornalista Bob Woodward, que cobriu o Watergate para o “Washington Post”.


O que a polícia descobriu em posse dos homens os tornou ainda mais suspeito. Os homens tinham notas de 100 dólares (com os números de série em sequência), chave-mestra, equipamentos para arrombar portas, câmeras, um receptor de ondas curtas que podia captar chamadas da polícia e três armas de gás lacrimogêneo do tamanho de uma caneta, informou o “Post” em 1972.


“Quando a polícia de Washington DC os pegou, eles tinham algo como 35 rolos de filme não revelados e câmeras muito avançadas com eles. Então eles não estavam procurando apenas um arquivo. Eles estavam procurando toneladas de informações”, disse Naftali.


Stahl disse que foi quando ela soube que não era apenas um arrombamento local. Era algo muito maior.


“Eu estava ficando cada vez mais animada com essa história”, disse ela. “Isto estava se tornando maior”.


O momento de cair o queixo


Sem um plano B em caso de prisão, os ladrões foram encurralados para revelar algumas informações importantes naquela manhã no tribunal: três letras-chave, para ser exato.

Woodward lembra o momento de cair o queixo quando um dos suspeitos foi interrogado: “O juiz disse: ‘Onde você trabalhou?’ E o ladrão principal, McCord, disse ‘CIA’. E quando ele disse CIA, acho que deixei escapar: ‘pu** merd*'”.


“A reação de Bob foi a certa: pu** merd*”, disse o jornalista Carl Bernstein, que trabalhou com Woodward nas publicações sobre o escândalo de Watergate.

“CIA. Oh, meu Deus, OK. Estamos em um território totalmente novo”, disse Stahl.


McCord havia se aposentado da CIA e era um oficial de segurança no comitê de Nixon para reeleger o presidente. Os outros foram contratados por assessores de campanha de Nixon: Liddy e Howard Hunt, um ex-agente da CIA e conselheiro do comitê de campanha.

“A Casa Branca entende imediatamente que isso poderia fazer chegar de volta a eles”, disse Naftali.


Nos meses que se seguiram, agentes do FBI, jornalistas e investigações do Congresso começaram a reunir detalhes do escândalo que apontavam para o envolvimento da Casa Branca.


“Watergate não é a história de um arrombamento. É a história de um padrão presidencial de traição à confiança”, concluiu Naftali. “O que é realmente preocupante nesta história é que se Nixon tivesse escolhido guerreiros secretos mais profissionais, pense no dano que poderia ter sido causado à nossa democracia”.


Fonte: CNN Brasil

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