A menina que fui volta em dezembro - Por Daniela Bitencourt Andara
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Dezembro, traz consigo um jeito curioso e suspeito e, acredito, que a percepção não é exclusiva minha: ficamos mais reflexivos, sensíveis e saudosos.
No momento em que o calendário chega na "última página", algo inusitado acontece... recebo a visita da menina que um dia fui. E, ela, atrevida, não bate na porta; simplesmente entra. Escuto o barulhinho do seu chinelinho arrastado trazendo consigo uma alegria que minha versão adulta muitas vezes esquece no dia-a-dia.
A presença dela chega quando anuncio meus tradicionais planejamentos de dezembro: balanços existenciais, planilhas de todos os tipos (que tentam organizar o caos do ano) e promessas de transformação. Tudo como uma "maratona". A Menina observa tudo com uma certa desaprovação do meu excesso de seriedade e sussurra no meu ouvido: -“Não te levas tão a sério!”
A menina que fui não tem paciência. Não compreende as minhas preocupações financeiras ou listas de compromissos. Ela prefere falar sobre luzinhas piscando, sobremesas antecipadas e o direito inegociável de rir sem motivo aparente. Me lembra, com certa insolência, de que crescer não significa abandonar a capacidade de encantar-se.
Dezembro, portanto, vira palco desse reencontro interno e intenso. Eu, adulta, tentando manter a compostura; ela, pequena, derrubando certezas como quem derruba enfeites na árvore de natal. E apesar do desafio simbólico que ela me provoca, é impossível negar o efeito restaurador, animador e esperançoso de sua visita.
Então relembro pequenas alegrias esquecidas: a ansiedade boa pela chegada do Natal, o prazer inocente de esperar um presente muito desejado, de escolher presentes, a leveza de rir de bobagens e até dos nossos próprios tropeços, da família reunida e.... (o principal!), o privilégio de acreditar, mesmo sem garantias, que tudo sempre pode (e vai!) melhorar.
Quando finalmente me rendo e deixo que minha versão antiga me conduza, algo silencioso acontece. O peso do ano diminui, abre espaço para uma luz íntima acenda, quase inocente.
A menina que fui não volta para me infantilizar; ela volta para me fazer lembrar de que esperança não é ingenuidade, (é sobrevivência!), que muitas vezes preocupação é falta de fé em nós mesmos e, que, a mágoa é um veneno que tomamos inconscientemente.
E, então, aprendo com nitidez: o Natal não inicia apenas nas ruas, nas vitrines ou nos enfeites das árvores natalinas, ele inicia dentro da gente.
Feliz Natal!

Daniela Bitencourt Andara, é Pedagoga e Professora da Rede Municipal de São Leopoldo
































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