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Modernidade plástica - Por Magali Schmitt

Postei um texto elaborado, pelo menos eu acreditei que fosse — fiquei horas lapidando, mudei coisas de lugar, arranjei outras, pensei expressões, espanei, poli e dei brilho novo a algumas palavras. Tudo para despertar os sentidos do leitor. Porque escrever tem esse elemento sensorial. A gente não escreve apenas por escrever. Escreve para tocar alguém lá no íntimo, num lugar onde a pessoa nem sabe, nem imagina que possa ser alcançado. E, num passe de mágica, nossa escrita arranha, tira a casca e traz à luz aquela ferida, causa um arrepio, atiça uma lembrança boa.


Passei dias com a ideia tirando meu sossego e, quando finalmente alcanço a paz de compartilhar o texto, vivo a curiosa experiência da modernidade plástica, que é a evolução — forjada por mim, é claro —, do conceito cunhado por Bauman. Bem, não sou uma socióloga nem filósofa reconhecida, o que é uma pena, pois os admiro, mas arrisco meus pitacos nesse campo. E faço isso com a propriedade e como forma de reparação histórica, já que na minha área, o jornalismo, sempre tem entendidos também.


Mas deixemos para trás esse parêntese e voltemos à minha adaptação, à nova modernidade, reconfigurada pela dinâmica das redes sociais (tenho certeza que Bauman aprovaria essa atualização). E voltemos outro passo mais atrás ainda, ao começo dessa conversa. Me esmerei num texto e postei. Escrever é um ato solitário. No entanto, depois que o filho nasce, tudo o que se deseja é ver ele ganhando asas, se jogando das coberturas, inundando os pensamentos.


A postagem recebeu vários comentários, admito. Mas esperei em vão. Queria debates, provocar discussão, receber anuência — que somos vaidosos, não se enganem. Está bem, eu já aprendi que depois que a obra ganha vida perdemos o controle sobre ela o que é, de certa forma, um alívio. O que leitor vai fazer com aquilo é problema dele. E isso também é um alento. Porém, no lugar de gerar reflexão, veio uma chuva de elogios como linda, maravilhosa e diva. Fiquei feliz, mesmo, com o carinho. Quem não gosta?


Mas essa ausência de comentários relacionados ao tema diz muito. Fala do fugaz, de como as pessoas não leem, apenas se detêm nas imagens e seguem rolando o feed. Mirei no conteúdo e acertei na plasticidade.


Não é um erro, desvio de caráter, nada disso.


É apenas o novo jeito da gente se organizar como sociedade. É meio desolador, confesso. E nem falo só por mim. Falo por todos nós, pelo que estamos perdendo enquanto olhamos sem ver. Enquanto estamos sozinhos rodeados de gente, buscando companhia no celular. Com pressa de ver o que está longe e esquecendo o que está embaixo do nariz.


De qualquer forma, cá estou eu, insistindo. Porque escrever, na atualidade, também é um ato de rebeldia e de coragem até. Cá estou eu criando conceitos sociológicos para explicar nosso comportamento e à espera. Porque tempos e conceitos passam e evoluem. As pessoas também.


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Magali Schmitt, é jornalista e escritora.

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