Quando a diplomacia tira férias - Por Magali Schmitt
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O chanceler alemão falou mal da gente. Disse que ficou feliz em voltar para casa. Ele precisa saber algumas coisas sobre o Brasil e sobre etiqueta. Mas vamos por partes. Primeiro, somente nós podemos falar do nosso país. Não me interessa se foi de Belém, Cacimbinhas ou São João do Passa Quatro. Sabemos onde estão nossos defeitos e nossas dores. E, como qualquer nação, preferimos resolver nossos perrengues por aqui, sem pitacos de fora.
Somos um país continental. Talvez herr Merz desconheça essa informação e não tenha noção de quantas Alemanhas caberiam aqui dentro, o que, por si só, já é triste. Não se trata de comparar grandezas. Conheço um pouco da Alemanha e posso afirmar que é um lugar incrível. O Brasil também: é lindo, gigante, diverso.
Acompanhei a COP30 menos do que deveria. Mas, como acontece com toda má notícia — vide o incêndio na conferência — a inabilidade verbal do gringo se espalhou rápido. É o tipo de coisa que chega até quem nem sequer abriu um portal de notícias. Tal qual cavalo desembestado: corre por todas as direções e nos alcança onde estivermos.
Aqui começa a segunda parte da história, aquela construída com as vozes da minha cabeça e com minha experiência de vida, que não vale mais nem menos do que a de ninguém. Soa tentador atribuir à nacionalidade de alguém o jeito desastrado de lidar com o mundo, mas não cola. Etiqueta, empatia e bons modos não dependem de origem, só de prática.
Diplomacia.
Foi isso que faltou ao alemão. Para nós, foi como reviver o 7x1, revirar as gavetas, desenterrar um desafeto. Bastou para reacender o brio verde-amarelo. E somos quase duzentos e quinze milhões, vale lembrar. Há uma força correndo nessas fileiras. A gente aguenta muita coisa isso é fato mas, não no nosso campo, e não sobre o nosso time.
Temos exemplos, na história recente, de como falta de tato cria incidentes desnecessários e atiça trincheiras virtuais. Um líder não representa apenas a si: arrasta consigo toda a sua gente. Quando fala, carrega milhares. Por isso, precisa deixar de pensar no singular e poupar o mundo de opiniões que não agregam.
Viajar é maravilhoso e voltar é ainda melhor, nisso concordo com ele. Mas deixo aqui a dica: da próxima vez, não custa entender um pouco mais sobre o Brasil, reconhecido pela hospitalidade. Somos um país jovem, em construção. Não temos a ancestralidade nórdica, mas temos a força de um povo que desenha seu caminho apesar de tudo, mesmo que, em alguns momentos, à própria sorte.
Não quero matar o mensageiro. Tendo a acreditar que essa pessoa não representa a totalidade do seu povo. E torço para que tenha sido apenas um equívoco de tradução, de humor, de timing. Lembrando sempre: oportunidades de ficar de boca fechada não faltam. E, às vezes, é o melhor que se pode oferecer ao mundo.

Magali Schmitt, jornalista e escritora.































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