Quando o Tempo se Abaixa para Ouvir as Crianças - Por Daniela Bitencourt Andara
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No fim de cada ano algo acontece, que só as crianças percebem primeiro: o tempo fica mais “macio”. Ele se faz menino, faz barulho! E, de pés descalços, se inclina para escutar melhor as histórias miúdas que moram no chão.
Foi em uma dessas tardes, pequenas, com cheiro de chuva e de esperança, que uma criança, modelando uma massinha de modelar, na Escola, me disse baixinho (como quem evidencia um segredo): - Natal é “quando o mundo fica com vontade de ser amigo”. Me confidenciou, com a naturalidade de quem diz que vai ali brincar e já volta. E eu, adulta que sou, (com toda a soberba de achar que sempre sabemos tudo), fiquei ali, parada, refletindo... Como uma frase tão simples podia carregar tanta autenticidade e genuidade.
A criança continuou:
— Sabia que minha avó me contou que no Natal, as luzinhas brilham e piscam porque lembram os olhos das pessoas quando elas estão felizes? Os avós....sempre eles!!! Guardiões do tempo, das verdades e das bonitezas da vida!
Nesse pequeno diálogo, entendi que as crianças não esperam milagres extraordinários. Para elas, o milagre é outro: é quando a mãe chega mais cedo, quando o pai ri alto, quando o amigo divide o brinquedo sem negociar nada em troca. O milagre acontece no olho a olho, esse lugar que o tempo adulto vive deixando para depois.
Talvez seja por isso que o Natal, quando visto com olhos de criança, não cabe nas vitrines. Ele cabe, nas oportunidades: entre um abraço e outro, entre um “vem cá” e um “fica comigo um pouquinho”. Natal cabe no silêncio que embala, na saudade que ensina, na mesa onde o pão parece ter mais gosto porque foi dividido.
Como não se apaixonar pelas grandezas escondidas nas coisas pequenas?
Enquanto a criança me mostrava seu presépio de massinha, carregado de intenções, pensei que o mundo inteiro deveria reaprender a construir presépios assim: por vezes desajeitados, porém honestos. Onde o mais importante não é a forma, mas o afeto que segura cada pedacinho para não cair.
E final, compreendi o que ela quis me dizer: Natal é quando todo mundo lembra que pode ser melhor. Se existe um tempo em que o mundo se aproxima daquilo que gostaria de ser, talvez seja mesmo agora, quando o tempo se abaixa devagar para ouvir a infância.
Que este Natal nos devolva essa escuta.
Que nos ensine a notar as pequenas luzes, aquelas que não piscam na tomada, mas dentro da gente.
E que possamos, (quem sabe), reaprender com as crianças o jeito mais bonito de existir: com simplicidade, com curiosidade. E, com coragem, de acreditar que o amor e a humanidade ainda têm o poder de mover o mundo!

Daniela Bitencourt Andara, é Pedagoga e Professora da Rede Municipal de São Leopoldo































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