Historiador Márcio Linck alerta para riscos urbanos e climáticos em São Leopoldo
- Start Comunicação

- 24 de jun.
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Atualizado: 25 de jun.

O historiador e ambientalista Márcio Linck, falou sobre os impactos das enchentes e a vulnerabilidade geográfica de São Leopoldo durante entrevista ao Programa Start News desta terça-feira (24). Ele relembrou que a cidade foi fundada sobre áreas de banhado, contrariando a recomendação do então presidente da província, Visconde de São Leopoldo. “A instalação urbana na planície de inundação do Rio dos Sinos é um erro de origem. Os banhados têm função ambiental de regulação da vazão das águas”, destacou.
Linck afirmou que os problemas enfrentados hoje têm raízes históricas e alertou para a falta de ações concretas por parte do poder público diante das mudanças climáticas. “Parece que o choque de realidade ainda não aconteceu para algumas figuras públicas. A cidade não está preparada”, concluiu.
Segundo o historiador, os estudos conduzidos com apoio da cooperação técnica entre Brasil e Alemanha no passado, já alertavam para a necessidade de um planejamento urbano mais responsável. “O sistema de diques era o mais viável pois já havia uma ocupação urbana consolidada e a única alternativa viável, naquele momento, era conter a água. Mas isso nunca foi suficiente por si só”, destacou. Linck ainda afirma: “Desde 1831 já havia alertas sobre a inadequação do local para expansão urbana. E ainda assim seguimos construindo em áreas que o rio, mais cedo ou mais tarde, vai reivindicar". Márcio Linck também lembrou que, diante do cenário atual de mudanças climáticas e eventos extremos mais frequentes, o debate precisa ser requalificado. “Não dá mais para tratar enchente como fatalidade. É consequência direta de escolhas históricas equivocadas e da omissão diante de alertas técnicos e científicos”, concluiu.
Segundo ele, a convivência com as cheias remonta ao século XIX, com registros de inundações severas desde 1871. “Em 1941 tivemos a maior enchente registrada até então. Isso moldou a relação do leopoldense com o rio dos Sinos: uma mistura de amor, uso e trauma”, explica.
Na década de 1970, uma parceria entre Brasil e Alemanha foi crucial para iniciar o sistema de contenção das cheias. “O convênio com o KWF, banco alemão de fomento, foi assinado em 1973. A construção dos Diques começou em 1975. Foram 22 quilômetros de diques e 16 quilômetros de valas de drenagem”, lembra Linck. O projeto visava proteger a cidade das cheias. Apesar do avanço, o sistema ficou incompleto por décadas. “O centro foi protegido em 1982, mas a zona norte só foi concluída em 2002, quase 20 anos depois do prazo previsto”, relata.
Contudo, o sistema já dá sinais de desgaste. “Com as mudanças climáticas, os Diques foram colocados em xeque. Eles foram pensados com base nos eventos de 1941, mas o parâmetro agora tem que ser 2024”, afirma, lembrando os recentes alagamentos e enchentes que atingiram a cidade mesmo com o sistema em funcionamento.
Para finalizar, o ambientalista destaca que os desafios de São Leopoldo não podem ser resolvidos apenas pelo poder público. “É preciso um pacto urbano. Com a sociedade civil, a academia, os empresários e os movimentos sociais.”
Em meio à reconstrução após as enchentes de 2024, a cidade encara um momento decisivo. “São Leopoldo precisa transformar sua memória em ação. É hora de deixar de apenas relatar o que foi, e começar a agir pelo que precisa ser”, conclui Linck.
Da Redação www.startcomunicacaosl.com.br - Mariana Santos - Jornalista MTB 19788
Assista a entrevista completa:


































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