Intolerância religiosa. Qual é a sua? - Por Núbia Pires
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- 11 de set.
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Sempre há brigas e divergências quando o assunto é política, futebol e religião. Mas entre todas as polaridades que nos assolam diariamente, o que mais vem sendo alvo de críticas e argumentos são as relações que dizem respeito a intolerância religiosa. É assombroso o quanto o cresce o desrespeito e a não aceitação ao credo do outro.
Aqui mesmo na nossa cidade outro dia vimos uma cena horrenda de crueldade realizada com um cachorro. Tal figuração foi caracterizada para dar aos que contemplavam o terror, a aparência de que havia sido realizado um ritual de magia negra, confundindo os espectadores que sinalizavam se tratar de macumba, batuque, coisa de casa de umbanda.
Nos comentários aos sites de jornal da cidade o que se viu foi:” Ao passar pelo ocorrido, havia velas pretas em claro sinal de oferendas, sacrifício ou algo do tipo! Certas religiões que maltratam animais deveriam deixar de existir.” “No caso essas velas pretas aí na foto indicam um sacrifício macabro né! Misericórdia, que quem fez isso seja punido!”.
Ainda, quando uma entidade apta a falar sobre o assunto no Município dá uma entrevista em jornal, falando sobre a intolerância religiosa aqui na nossa cidade, sendo relevante a intolerância religiosa nos casos de religiões de matrizes africanas, os comentários são: “E o barulho após as 22h, tem tolerância?”, “Quer que eu tire foto das galinhas?”, “Ele que vá para o meio do mato e cria a sociedade dele, duvido que numa sociedade de macumbeiros se cristãos seriam bem vindos”,
No Brasil, a cada esquina tem um templo, uma igreja ou pelo menos alguém oferecendo um folheto com promessas de salvação. E está tudo bem: diversidade é o que mais se tem na nossa sociedade. O problema começa quando algumas pessoas acham que só a fé delas tem valor. Aí nasce a intolerância religiosa, esse hábito nada santo de tentar “converter” os outros à força, seja com preconceito, piadinhas ou até violência.
A Constituição garante que todo mundo pode acreditar no que quiser ou até então não acreditar em nada. O estado é laico. Mas tem gente que insiste em se meter na espiritualidade alheia, tanto é que o esforço atinente a fazer com que o outro se converta é tão grande que algumas religiões invadem inclusive espaços que são alheios aos seus para tentar mostrar que a sua verdade deve prevalecer sobre as demais.
O antídoto para isso não é exorcismo social, mas sim educação e respeito. Afinal, conviver com diferentes religiões é como ir a um rodízio: você não precisa comer de tudo, mas precisa respeitar quem gosta da parte que você não quer. Fé não é competição. E se cada um cuidasse da sua religião com a mesma dedicação que cuida da do outro, a intolerância já não existiria faz tempo.
Mas enquanto Deus não tira todas as dores do mundo e o trabalho realizado não soluciona todos os dilemas, seguimos tentando entender que religiões são formadas por pessoas, essas únicas e exclusivas pertencentes a esse mundo de sofreguidão, que utilizam dos credos como uma forma de conforto, como uma busca de respostas, como uma esperança de dias melhores.
A busca por “Deus” está em religar-se a Ele. Está na percepção que somente no estreitamento das relações e no respeito ao outro é que nos reencontraremos e saberemos o verdadeiro significado da palavra. Deus somos nós e nossa vontade de entender e acolher. Basta de intolerância. Seja ela religiosa, futebolística, política. Deixem a intolerância para lactose, glúten, entre outros....

Núbia Pires, é advogada


































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