Sala de aula: espelho da alma - Por Cíntia Maciel

Cartazes, mesas e cadeiras. Quadro branco. E aquele silêncio que, aos poucos, vai se rompendo com a chegada deles, os alunos que são os protagonistas da nossa história.

Os jovens, um a um, vão ocupando seus lugares. O burburinho começa. Entre risos e olhares de "e aí, beleza?", o cenário da sala de aula vai se transformando, e o que era um espaço vazio, passa a ter vida.

Essa transformação ganha nome, ganha rosto. São Anas, Bernardos, Éricos, Júlias, Luizas, Maitês... uma turma com personalidades super diferentes e, ao mesmo tempo, tão semelhantes.

A sala de aula vai além da estrutura física ou um monte de concreto: é um espaço para a construção do conhecimento, para fazer amigos de verdade e para o fortalecimento das relações humanas.

Falar sobre os conteúdos programáticos durante as aulas de Língua Portuguesa/Literatura é desafiador, uma vez que essa galera jovem traz em seu repertório os assuntos mais diversificados. É de tudo um pouco!

E são muitos assuntos. A linguagem da juventude os une. Eles se ligam pelas afinidades, seja por um meme, uma série ou a banda que curtem. É um universo particular que o professor precisa sacar para se conectar com eles.

Observá-los passa a ser um aprendizado. E conhecê-los um pouco mais a cada aula, a cada papo, é o que fortalece a relação.

Cada um, do seu jeito, mostra a que veio. Tem o que fala com as mãos, que gesticula sem parar; o mais na dele, que fica de boa em seu canto; o mais gente boa, que chega abraçando; a mais risonha, que ri de tudo; e não podia faltar o "mais enrolão", aquele que tem um papo bom e tenta dar um jeitinho em tudo na base da conversa.

O professor circula pela sala e, enquanto interage, percebe que, sem querer, é a vida dele que é transformada.

Assim, as histórias se cruzam. Os vínculos se criam. Ainda ao observá-los, o professor tem a oportunidade de voltar no tempo, resgatar sua memória e revisitar sua própria história.

Os estudantes se tornam um espelho. E nesse reflexo, o educador ganha de volta a "fotografia" de quem ele já foi um dia. Aquele adolescente com sonhos, com dúvidas, com a cabeça a mil... um indivíduo em constante evolução.

É uma reflexão profunda. Uma lembrança de que a educação não é uma via de mão única. A sala de aula é um lugar de interação, onde a alma de cada um é revelada.

E a melhor parte é receber a dádiva de se reencontrar através dos olhos de seus alunos.

E você: qual é o seu espelho?

Cíntia Maciel, é Professora na rede privada e estadual, Graduada em Letras e Escritora, Especialista em Neuropsicopedagogia, Supervisão Escolar e Atendimento Educacional Especializado (AEE) com ênfase em Autismo.