África rachando? Cientistas acham bolha quente nas profundezas do planeta
- Alexon Gabriel - Jornalista - MTB 11472/RS
- há 5 horas
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Parece coisa de filme, mas é real: cientistas encontraram pistas de que uma enorme massa quente está subindo das profundezas da Terra bem debaixo da África Oriental. Isso pode estar por trás das rachaduras gigantes que estão abrindo o continente ao meio.
O que aconteceu. A descoberta foi feita a partir da análise de gases que saem de um campo geotérmico no Quênia. O estudo, liderado por Fin Stuart, da Universidade de Glasgow, com apoio de universidades da China e dos EUA, revelou que os gases vêm de um material muito antigo —e muito profundo da Terra, vindo direto da fronteira entre o núcleo e o manto.
É como se uma bolha quente gigante estivesse empurrando tudo de baixo pra cima. Esse movimento pode ser o motivo de o continente africano estar se dividindo, formando o famoso Sistema de Rift da África Oriental, uma espécie de fenda imensa que já corta países como Etiópia, Quênia, Uganda e Malawi.
A equipe coletou gases superquentes de poços geotérmicos a mais de 2.000 metros de profundidade. Com equipamentos precisos, eles analisaram os isótopos de um gás chamado néon, um tipo de "assinatura química" que ajuda a identificar de onde os gases vieram.
O resultado surpreendeu: a composição desses gases é praticamente idêntica à de rochas vulcânicas de outras regiões da África e até do Havaí. Isso indica que existe um mesmo tipo de rocha quente e profunda alimentando toda essa atividade vulcânica e empurrando os continentes para longe um do outro.
É como se existisse uma única fonte poderosa, uma "superpluma" vindo do centro da Terra. Esse fenômeno está ajudando a rachar a África de norte a sul.
Região do Rift Valley, no leste da África, está passando por um processo de separação da crosta terrestre. Esse fenômeno permite que o magma das camadas mais profundas suba até a superfície, dando origem a vulcões e terremotos.
Três placas em movimento constante. A área faz parte do chamado Triângulo de Afar, uma junção de três placas tectônicas em deslocamento: a da Arábia, a da Somália e a Núbia. Esse movimento contínuo, ainda que lento, causa instabilidade e transforma o relevo da região, de acordo com Álvaro Crósta, professor titular de geologia da Unicamp em entrevista a Tilt.
¨A ruptura teve início há mais ou menos 33 milhões de anos e, a longo prazo, vai levar à separação dessa área triangular da África.¨
Álvaro Crósta.
Por que isso importa?
Além de ajudar a entender a formação do continente africano, a descoberta pode mudar o que sabemos sobre o funcionamento do planeta. Esse tipo de estudo também é essencial para prever futuras mudanças geológicas e possíveis riscos para as populações que vivem sobre essas áreas instáveis.
¨Há muito tempo estamos interessados na superfície, quanto é transportado e qual o papel que isso desempenha na formação da topografia em larga escala da superfície da Terra. Nossa pesquisa sugere que uma grande massa quente de rocha da fronteira entre o núcleo e o manto está presente abaixo da África Oriental, ela está afastando as placas e sustentando o continente africano, que está centenas de metros mais alto do que o normal¨.
Fin Stuart, em entrevista ao site da universidade de Glasgow.
¨Esses gases de nossos poços geotérmicos forneceram novas e valiosas informações sobre o interior profundo da Terra, ajudando-nos a entender melhor não apenas as forças geológicas que moldam a África Oriental, mas também os processos fundamen¨
Biying Chen, da Universidade de Edimburgo em entrevista ao site da universidade de Glasgow.
FONTE: PORTAL TERRA
FOTO: Vincent Boisvert/Getty Images
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